15.8.09

Parte #2

HILDY - Não me interessa.

REPÓRTER - Mande calarem a boca.

OUTRO REPÓRTER - Fiquem quietos! Como esperam que a gente trabalhe?

POLICIAL - Cale-se!

REPÓRTER - Não respeitam a imprensa aqui.

HILDY - Alguém me ligou?

REPÓRTER - Não que eu saiba.

OUTRO REPÓRTER - Walter sabe que vai se casar?

HILDY - Almocei com ele.

REPÓRTER - Disse que vai parar?

HILDY - Disse. Mais perguntas?

REPÓRTER - Quer jogar?

HILDY - Não tenho tempo. Vou escrever sobre Williams. Ele sabia o que estava fazendo quando atirou?

REPÓRTER - Se nos perguntar, não. Se perguntar ao médico, "sim".

HILDY - Quem é ele? O que faz?

REPÓRTER - Era guarda-livros. Começou com US$ 20 semanais e após 14 anos passou a US$ 17,50.

HILDY - Tem chiclete?

REPÓRTER - Não. A empresa faliu e ele perdeu o emprego.

HILDY - Não arrumou outro?

REPÓRTERES - Eu topo.
Eu também.
Começou a vagar pelo parque, ouvindo discursos idiotas começou a acreditar neles. E fez alguns.
Mais US$ 0,10.
Eu topo.

ESCRITÓRIO DE WALTER. Doutor examinando Walter.

WALTER - Algo mais, doutor?

Doutor guarda suas coisas numa maleta.

DOUTOR - Não, é tudo.

WALTER (vestindo a camisa) - Está tudo bem?

DOUTOR - Não há com o que se preocupar.

WALTER - Ótimo. E então, Bruce?

BRUCE - Só mais uma coisa.

DOUTOR - Bom dia, Sr. Burns, Sr. Baldwin.

Doutor sai de cena.

BRUCE - Até logo e obrigado. (A Walter) Quem é o beneficiário?

WALTER - Como disse?

BRUCE - No caso da sua morte, a quem pagaremos?

WALTER - Hildy, claro!

BRUCE - Não sei. Eu me sentiria meio estranho.

WALTER - Por que eu não faria dela a sei-lá-o-quê?

BRUCE - Eu devo cuidar dela.

WALTER - Mas vai cuidar! Se o médico tem razão, ainda vou durar muito. É uma dívida de honra para mim. Fui péssimo marido! Ela podia ter pedido pensão, mas não. Ela tinha direito, mas era muito independente.

BRUCE - Também sou.

WALTER - Eu sei disso! Mas pense assim: ainda vou viver uns 25 anos. Até lá terá tanto dinheiro que isso não fará diferença. Mas suponha que não tenha se dado bem. E a velhice de Hildy? Posso vê-la. Cabelos brancos, lilás e rendas. Não pode vê-la?

BRUCE - Sim, eu posso.

WALTER - Ela está velha, não está? Não acha que ela merece passar os últimos anos sem preocupações financeiras?

Duffy entra na sala.

BRUCE - Claro que sim! Se coloca assim...

WALTER - E lembre-se, eu também a amo.

BRUCE - Estou começando a ver isso.

WALTER - E o melhor é que ela só saberá depois que eu morrer. Talvez ela tenha carinho por mim depois que eu partir.

BRUCE - Parece que estou entre vocês.

WALTER - Você não está entre nós. Já tinha acabado para ela antes de você aparecer. Para mim nunca acontecerá. O que é?

DUFFY - Posso falar com você?

WALTER - Com licença.

Walter sai da sala e vai falar com Duffy.

WALTER - Conseguiu? Onde está? Visado?

DUFFY - Claro. Mas é de US$ 2.500! Aqui está! Visado e tudo mais!

Walter volta à sala, onde Bruce guarda seus papéis.

WALTER - Visado!

BRUCE - Hildy terá vergonha de pensar que não confiou em você, mas um dia ela saberá.

WALTER - Prometeu ligar assim que pegasse o cheque.

BRUCE - Claro!

Walter entrega o telefone a Brue.

BRUCE - Hildy, sala da imprensa, prédio do tribunal.

WALTER - Sente-se. A telefonista vai completar. Com licença.

Walter sai da sala.

BRUCE - Alô? Sim, eu espero. Pode falar. Hildegarde. Obrigada.

HILDY - É Hildy Johnson. Alô, Bruce.

REPÓRTER - Estou jogando há uma hora...

HILDY - Silêncio, por favor. Alô? Conseguiu o cheque? Está visado?

BRUCE - Visado e tudo mais. Está aqui no meu bolso.

HILDY - No bolso. Isso é bom. Espere, talvez não. Onde você está?

BRUCE - No escritório do Sr. Burns.

HILDY - Ele está aí? Não quero que fique com esse cheque no bolso. Porque eu sei disso, mas nos jornais dizem que o primeiro cheque recebido deve ficar no forro do chapéu. No chapéu! Dá sorte.

REPÓRTER - Sou repórter e nunca ouvi isso.

HILDY - Nem eu. Sei que parece bobo mas faça por mim, por favor. Agora mesmo.

BRUCE - Um momento.

Bruce coloca o cheque em seu chapéu.

BRUCE - Pronto, já pus. Mais alguma coisa?

HILDY - Sim.

BRUCE - Está bem. Direi a ele. Até logo.

WALTER - Tudo bem, Bruce?

BRUCE - Hildy disse que já vai começar.

WALTER - Ótimo.

BRUCE - Preciso ir agora.

WALTER - Não esqueça isso. Pode chover.

Walter lhe entrega o guarda-chuva.

BRUCE - Obrigado.

WALTER - Importa-se se eu não o acompanhar? Estou ocupado.

BRUCE - Obrigado por tudo.

WALTER - Como disse?

BRUCE - Obrigado por tudo.

WALTER - Bobagem. Eu é que agradeço.

BRUCE - Até logo.

WALTER - Até logo.

DELEGACIA. HILDY ENTRA. COOLY ESTÁ SENTADO DE COSTAS PARA A PORTA. VIRA-SE QUANDO ELA LHE FALA.

HILDY - Oi, Cooley.

COOLEY - Hildy, o que faz aqui?

HILDY - Quero uma entrevista com Earl.

COOLEY - Chega de entrevistas.

HILDY - Por que não?

COOLEY - Ordens do xerife. O doutor vai chegar. Não dá.

HILDY - Esse dinheiro é seu?

COOLEY - Acho que não.

HILDY - US$ 20?

COOLEY - Acho que sim.

HILDY - Foi o que pensei.

COOLEY - Vamos logo. Joe, abra aqui. Hildy, não...

Um dos guardas abre o portão da cela de Earl e Hildy entra.

HILDY - Não vou demorar. Olá, Earl. Meu nome é Johnson. Posso falar com você?

Hildy puxa uma cadeira e senta-se próxima à grade de proteção.

EARL - Não tenho mais nada a fazer.

HILDY - Certo.

EARL - Não pude alegar insanidade, porque sou são.

HILDY - Não queria matar o policial?

EARL - Não. É contra tudo que acredito. Sabem que foi acidente. Não sou culpado... é o mundo!

HILDY - Entendo. Desculpe o batom. Depois que perdeu o emprego o que fez?

EARL - Tentei achar outro.

HILDY - Como passava o tempo?

EARL - Ficava sentado no parque. Não fumo.

HILDY - No parque, ouvia discursos? Aqueles caras que falam demais?

EARL - Não prestava atenção.

HILDY - Ouvia o que diziam?

EARL - Sim.

HILDY - Lembra de algo em particular?

EARL - Havia um cara.

HILDY - Do que ele falava?

EARL - Produção útil.

HILDY - Produção útil?

EARL - Disse que tudo deveria ter utilidade. Faz sentido, não? Gostei dele. Era bom.

HILDY - Quando se viu com a arma na mão e o policial se aproximou em que pensou?

EARL - Eu não sei exatamente.

HILDY - Pensou em algo. Seria em "produção útil"?

EARL - Não sei.

HILDY - Para que serve uma arma?

EARL - Uma arma? Para atirar, claro.

HILDY - Pode tê-la usado por isso.

EARL - Talvez.

HILDY - Parece razoável.

EARL - Sim, é. Nunca tive uma arma na mão. E é para isso que serve, não? Talvez seja porque...

HILDY - Claro.

EARL - Foi o que pensei. Produção útil. Simples, não?

HILDY - Muito simples.

EARL - Não há nenhuma loucura nisso.

HILDY - Nenhuma.

EARL - Vai escrever isso no jornal?

HILDY - Claro. Quem mandou as rosas?

EARL - Srta. Malloy. É maravilhosa.

HILDY - É ela?

EARL - Sim. É linda, não?

COOLEY - Acabou, Hildy.

HILDY - Está bem. Acho que é só.

Hildy levanta-se e coloca a cadeira de volta no lugar.

EARL - Gostei de falar com você. Adeus, Srta. Johnson.

HILDY - Adeus, Earl. Boa sorte.

MORNING POST. Repórteres jogando.

REPÓRTER - Três damas.

OUTRO REPÓRTER - Melhorou, não?

REPÓRTER - O que o jornal fará sem Hildy? Acha que Walter a deixará ir? Lembra o que fez com Fenton? Foi preso como incendiário.

REPÓRTERES - Falsificador.
- Foi isso?
- Foi. Me dê troco.
Ei, Mac, é o Sam.
Pode acender as luzes?
Está ficando muito escuro.

MURPHY - Com quem Hildy vai casar?

ENDICOTT - Não sei. Bruce alguma-coisa.

SCHWARTZ - Dou seis meses para o casamento.

MCCUE - Por quê?

SCHWARTZ - Vai sentir falta do jornal. Viu quando o alarme soou?

REPÓRTER - Deve ser bom poder sair de um lugar e se demitir. Ano passado, me ofereceram um emprego. Eu devia ter aceitado. Queria um trabalho paralelo. Uma mesa e uma estenógrafa. Não me importaria com uma loirona. Com olhos castanhos.

SCHWARTZ - Aposto que não dura seis meses.

REPÓRTER - Ela é como nós, ou não ficaria esperando o cara.

Mollie Malloy entra na sala, um pouco irritada.

MCCUE - Ora, ora, Srta. Malloy.

MURPHY - Oi, Mollie, como vai?

MALLOY - Estava procurando vocês.

WILSON - Veio visitar Williams?

ENDICOTT - Belas rosas. O que quer que façam com elas amanhã?

MALLOY - Como são espertinhos.

SCHWARTZ - Vai estragar o jogo. O que quer?

MALLOY - Eu vim dizer o que penso de todos vocês.

MURPHY - Não se descontrole.

MALLOY - Se valesse a pena, eu quebraria a sua cara!

MURPHY - O que houve? Não lhe demos uma matéria bacana?

MALLOY - Estão me fazendo de boba há muito tempo. Nunca disse que amava Earl e que me casaria com ele. Vocês inventaram isso. E sobre termos um ninho de amor.

BENSINGER - Vive lá desde que ele foi preso.

MALLOY - É mentira!

ENDICOTT - Todos sabem que são namorados.

MALLOY - Estive com o Sr. Williams apenas uma vez. Ele estava vagando na chuva sem chapéu e casaco um dia antes do tiro.

REPÓRTER - Quero uma.

MALLOY - Fui até ele e perguntei o que estava acontecendo. Ele disse que fora despedido após 14 anos no mesmo emprego.

REPÓRTER - Apostas?
- US$ 0,20.

Hildy entra na sala e começa a datilografar.

MALLOY - Eu o levei para o meu quarto porque era quente!

MURPHY - Diga num alto-falante.

MALLOY (chorando) - Ouçam, por favor! Ele passou a noite sentado, falando comigo. Não tocou em mim. De manhã, foi embora. Só voltei a vê-lo no julgamento. Claro que fui testemunha!

ENDICOTT - E que testemunha.

MALLOY - Por isso estão me perseguindo. Ele me tratou com decência e não como um animal.

MURPHY - Estamos ocupados.

WILSON - Vá ver seu namorado.

ENDICOTT - Ele tem um belo quarto. Não por muito tempo. Até às 7.

MALLOY - Por que um raio não fulmina todos vocês? (barulho) O que é isso?

ENDICOTT - Estão preparando a forca.

Malloy vai até a janela e vê os policiais preparando a forca.

MALLOY - Que vergonha! Que vergonha! Um coitado que nunca fez mal a ninguém esperando o Anjo da Morte...

MURPHY levanta-se e tenta levar Malloy para fora.

MURPHY - Vá embora daqui.

MALLOY - Tire as mãos de mim!

HILDY - Vamos sair daqui.

MALLOY - Não são humanos!

HILDY - Eu sei. São jornalistas.

MALLOY - Eles só mentem! Só escrevem mentiras! Por que ninguém me escuta? Por que ninguém me escuta?

Hildy consegue levar Malloy pra fora. Ambas saem de cena. O telefone toca.

WILSON - Alô? Quem? Hildy Johnson? Um momento, ela já volta.

MURPHY - Mais cartas?

ENDICOTT - Para quê? Não ganho mesmo.

HILDY - Cavalheiros da imprensa.

WILSON - Hildy. Telefone para você.

Hildy atende.

HILDY - Olá, Bruce. O quê? Onde está? Onde? Como isso aconteceu? Tudo bem, eu já vou.

Hildy pega sua bolsa e sai em disparada porta afora, pisando no pé do xerife que vai entrando.

HILDY - Desculpe.

Hildy sai de cena. O xerife Pete entra na sala, reclamando da dor.

WILSON - Oi, xerife, como vai?

HARTWELL - Minha canela e minhas costas! O que está havendo aqui?

ENDICOTT - Bruce está em apuros. Leoas defendem os filhotes.

MCCUE - O homem esquece o lenço, a mãe vai limpar o nariz.

SCHWARTZ - Ainda dou 6 meses ao casamento.

HARTWELL - Não sei do que estão falando.

REPÓRTER - O que quer, Pete?

HARTWELL - Tenho entradas pro enforcamento.

BENSINGER - Por que não o enforcam às 5 h em vez de às 7 h? Pra fazermos a edição da cidade.

HARTWELL - É difícil. Não posso enforcar alguém para agradar um jornal.

REPÓRTER - Mas pode fazer o enforcamento cair três dias antes da eleição. Você pode fazer isso.

HARTWELL - Sério não tive nada a ver com isso.

REPÓRTER - Quem diz que não haverá outra. Se o médico disser que é louco.

HARTWELL - Não dirá, porque ele não é. É tão são quanto eu.

REPÓRTER - Mais!

HARTWELL - Falem sério. É um enforcamento! Vai obedecer o horário. 7 h e nem um minuto antes. Afinal, é preciso ser humano.

REPÓRTER - Nunca mais peça favores, Pinky.

HARTWELL - E não me chamem de Pinky.

REPÓRTER - Por quê?

HARTWELL - Porque eu tenho nome: Peter B. Hartwell!

REPÓRTER - "B" de quê?

- Burro.

- "B" de quê?

- Burro.

Dissolve. Plano americano de Bruce numa cela. Hildy está falando com ele e com o delegado.

BRUCE - Sou inocente. Nunca fiz nada. Nunca roubei um relógio!

HILDY - Sei que não. Mike, deixe-o sair.

DELEGADO - Não posso. Foi acusado de roubar um relógio, e estava com ele.

BRUCE - Nunca roubei...

HILDY - Por favor. Louie o acusou? O maior patife da cidade.

DELEGADO - Sei que...

HILDY - Vai soltá-lo ou não vai?

BRUCE - Nunca roubei.

HILDY - É melhor ler o "Post" de manhã.

Dissolve. Hildy e Bruce estão dentro de um táxi em movimento.

BRUCE - Não posso imaginar quem tenha feito isso. Não tenho inimigos. Sei que...

HILDY - Está com o cheque?

BRUCE - Está bem aqui. É uma superstição engraçada.

Bruce tira o cheque do chapéu e o entrega a ela.

HILDY - É mesmo.

BRUCE - Até pensei que Burns tivesse algo a ver com a prisão, mas logo vi que não.

HILDY - Por quê?

BRUCE - É uma boa pessoa. Eu achei...

HILDY - O que houve?

BRUCE - Perdi minha carteira!

HILDY - Tudo bem, estou com o dinheiro. É bom me dar o cheque também.

BRUCE - ...E a nossa foto nas Bermudas.

HILDY - Vai dar falta de muita coisa.

O taxi estaciona. Hildy salta.

HILDY - Espere aqui. Não vou arriscar. Volto logo para pegarmos o trem.

Hildy entra no prédio do Post.

WILSON (lendo) - "E então, naquela mente torturada veio a idéia de que a arma fora produzida para ser útil, E ele a usou. Mas o Estado também tem uma produção útil. Tem forcas. E, às 7 h, se não ocorrer um milagre a forca será usada para separar a alma de Williams do corpo. E Mollie Malloy terá perdido a única boa alma que conheceu."

REPÓRTERES - Foi o que ela escreveu.
Ela é boa de entrevista ou não?
Se não aparecer ninguém...
Não é ético ler o que não é seu.
De onde tirou isso?
Não tem ética nenhuma.
Mas quem escreve assim não vai desistir do trabalho para cerzir as meias do marido.
Dou três meses a esse casamento e aposto 3 contra 1.
Alguém topa?
Eu topo.

Hildy entra.

HILDY - Não se pode sair da sala sem virar assunto de velhotas. "Post"? Walter Burns, por favor.

REPÓRTER - Calma. Só dissemos que uma repórter não desiste assim.

HILDY - Aqui é Hildy Johnson. Posso desistir sem um tremor. Viverei como um ser humano. (ao telefone) Walter? Tenho novidades. Consegui a entrevista, mas tenho novidades. É melhor pegar um lápis e anotar. Pronto? Seu macaco traidor! Não haverá entrevista nem matéria e seu cheque visado vai partir comigo dentro de 20 minutos. E eu não cobriria nenhuma matéria pra você! E se o vir de novo vou martelar sua cabeça como um gongo! Não sabe por que estou zangada? Peça a Louie para te contar. Só mais uma coisa. (rasga o papel) Ouviu isso? É a matéria que escrevi. Sei que temos um acordo. Disse que escreveria não que não rasgaria. Está em pedaços e espero fazer o mesmo com você! É o meu adeus ao jornalismo! Vou ser uma mulher! Vou ter bebês, cuidar deles, ver os dentes deles nascerem e, se olharem para um jornal, eu os mato. Meu chapéu?

Hildy larga o telefone, pega a matéria que escreveu...

REPÓRTER - Sr. Burns, ela ainda está aqui.

Hildy pega o fone:

HILDY - Dê-me isso. E tem mais...

... e rasga o papel. Veste o casaco, pega o chapéu e a bolsa.


INT. DIA - DELEGACIA. Pete e Egelhoffer.

HARTWELL - Oi, doutor, desculpe o atraso.

EGELHOFFER - Tudo bem.

HARTWELL - Esses jornalistas me tomam tanto tempo. Queriam mudar o horário do enforcamento. Oi, Earl.

EGELHOFFER - Estes jornais!

HARTWELL - O que aguentei em Chicago!

EGELHOFFER - Eu acredito!

HARTWELL - Viviam querendo entrevistas.

EGELHOFFER - Eu também. Prometi dar uma declaração quando acabarmos aqui. Posso?

HARTWELL - Não é ético. Todas as declarações devem vir de mim.

EGELHOFFER - Entendo. E se dermos uma coletiva? Posso discutir os aspectos psicológicos do caso, e você...

HARTWELL - Sairíamos juntos nas fotos?

EGELHOFFER - Apertando as mãos.

HARTWELL - Ótima idéia!

EGELHOFFER - Não sou muito fotogênico.

HARTWELL - O que importa é a publicidade.

EARL - Estou ficando cansado. Posso voltar para a cela?

HARTWELL - Esqueci que estava aí.

EGELHOFFER - Não, tenho algumas perguntas. Pode diminuir as luzes? Vamos fazer o que viemos fazer.

HARTWELL - Vejamos...

Pete apaga as luzes e mantém apenas um refletor bem no rosto de Earl.

EGELHOFFER - Sr. Williams, sabe que vai ser executado. Quem acha que é o responsável?

EARL - Sou inocente. Não tive culpa.

SALA DE IMPRENSA. Hildy está saindo.

HILDY - Bem, Murph.

MURPHY - Mande um postal.

WILSON - Adeus, Johnson!

HILDY - Até Logo, Hildegarde.

HILDEGARDE - Quando a veremos?

HILDY - Quando me virem, estarei falando sobre sucesso. Adeus, escravos. Quando estiverem em escadas de incêndio, sendo chutados ou comendo a ceia de Natal em espeluncas lembrem-se de mim. E, quando a estrada se abre, e o trabalho...

Barulho de tiros. Todos correm para a janela, exceto Hildy.

REPÓRTERES - É uma fuga!
O que houve? O que aconteceu?
Olhe para onde atira!
Vigiem o portão!
Quem fugiu?

POLICIAL - Earl Williams!

Todos correm para os telefones e fazem ligações.

REPÓRTERES - Alô? Rápido, é importante.
- Redação! Williams fugiu.
- Houve uma fuga.
Ele sumiu!
Ainda não sei de nada!

Hildy está parada à porta. Todos correm para fora da sala. Hildy permanece e faz uma ligação.

HILDY - Walter. Rápido, é Hildy. É Hildy. Williams acaba de fugir da prisão. Não se preocupe, estou indo.

Hildy sai correndo da sala.


Ext. Noite. Ruas. Muitos carros da polícia passando, sirenes ligadas, muita confusão. Hildy corre atrás de Cooley.

HILDY - Cooley, espere! Espere! Espere um pouco! Quero falar com você.

SALA DE IMPRENSA. Telefone tocando. Wilson atende.

WILSON - Chame o copidesque.

REPÓRTER - Ele não está.

WILSON - A situação é a seguinte. Está pronto? Williams foi levado à sala do xerife para ser examinado e, em poucos minutos, escapou. Não sabem onde arrumou a arma. Ele subiu para a enfermaria e escapou pela clarabóia. Escorregou pela calha até a rua. Não sabem onde conseguiu. Ou não contam.

Pete e McCue entram.

MCCUE - Ofereceram US$ 10 mil... Murphy. Não sabem onde está. Houve um acidente com uma bomba de gás lacrimogêneo. Faz os criminosos chorarem. Eu não sei. Explodiu nas mãos do esquadrão.

HARTWELL - O quê?

WILSON - Foram levados para o hospital.

HARTWELL - Belo amigo!

WILSON - Os nomes são Wilkerson, cunhado do prefeito.

HARTWELL - Depois do que fiz por você!

WILSON - Schuster, tio do xerife...

MCCUE - Novidades sobre a perseguição.

WILSON - Mansfield, senhorio do xerife e Winthrop, marido da sobrinha dele.

MCCUE - Você se lembra. Até mais.

WILSON - Sra. Rice, 55 anos, faxineira, levou um tiro disparado por um dos assistentes.

HARTWELL - Ouça...

Barulho de tiros.

WILSON - Lá se vai outra faxineira!

Pete sai da sala.

MCCUE - McCue. Redação. Já sabem como ele fugiu? O xerife o soltou para votar nele. Um homem foi visto...

REPÓRTER - Até mais.

Hildy entra correndo quando os outros estão saindo da sala.

REPÓRTER - Pensei que tinha ido.

HILDY - Eu também.

Quando eles saem, ela fecha a porta e faz uma ligação.

HILDY - Walter Burns, rápido. Walter, escute. Tenho toda a história de como ele conseguiu a arma e fugiu.

Walter está em sua sala, com Vangie e Louis.

WALTER - É maravilhoso.

HILDY - Arranquei do Cooley por US$ 450.

WALTER - Qual é a história?

HILDY - Vou dizer, mas tive de dar o dinheiro. E não era meu. É do Bruce, e quero de volta!

WALTER - Do Bruce? Claro, vai receber. Qual é a história? Mando o dinheiro. Juro sobre o túmulo da mamãe.

HILDY - Está bem espere aí, sua mãe está viva.

WALTER - Da minha avó. E a história?

HILDY - Mande o dinheiro para cá.

WALTER - Está bem.

HILDY - É o seguinte: A fuga dos seus sonhos. Parece que o médico de NY fez um teste de sanidade na sala do xerife espetando alfinetes para testar os reflexos dele. Ele resolveu reencenar o crime como ocorreu para testar a coordenação dele. Vou chegar lá. Eles lhe deram uma arma para reencenar o crime. Quem lhe deu uma? Peter B. Hartwell. "B" de burro.

WALTER - Não brinca!

HILDY - Não seria capaz de inventar isso. O xerife deu a arma Earl atirou no professor, naquele lugar. Não, naquele. Não é perfeito? Se o xerife desenrolasse o tapete vermelho, não seria tão perfeito. Quem? Não, nada grave. Foi para o hospital e vai se recuperar.

WALTER - Muito bom. Esqueça o dinheiro. Vai recebê-lo em 15 minutos.

HILDY - É bom. Bruce está me esperando no táxi, e estamos com pressa.

WALTER - Um momento. (tapa o fone com uma mão) Vangie, venha cá. Há um cara em frente ao tribunal. Chama-se Bruce Baldwin.

VANGIE - Como ele é?

WALTER - Parece aquele ator, Bellamy.

VANGIE - Ele?

WALTER - Consegue?

VANGIE - Já desapontei você?

WALTER - Vá andando. Tem dois minutos. (Ao telefone) Desculpe. Quanto era mesmo? US$ 450? Um momento.

Wlater tapa o fone mais uma vez.

WALTER - Louie, preciso de US$ 450 em dinheiro falso.

LOUIS - Não pode andar com tanto.

WALTER - Só US$ 450. Onde consigo?

LOUIS - Eu tenho.

WALTER - Que coincidência. Leve até ela.

LOUIS SAI DA SALA.

WALTER - Louie vai levar. Obrigado pela matéria. Boa sorte na lua-de-mel!

HILDY - Esqueça os agradecimentos. Mande o dinheiro.

Hildy desliga. McCue entr na sala.

MCCUE - Ainda está aqui?

HILDY - Não, estou em Niagara Falls.

MsCue faz uma ligação.

MCCUE - É McCue. E mil, novidades sobre a caçada. Pronto? A Sra. DeWolfe deu à luz numa rádio patrulha e as enfermeiras foram o esquadrão do xerife Hartwell. Ela estava na rua quando... isso mesmo... Eles a colocaram na patrulha e ajudaram a cegonha. O bebê foi examinado para verem se era Williams. Sabiam que ele estava em algum lugar. E tem mais, o nome dele vai ser Peter Hartwell DeWolfe.

Outro telefone toca. Hildy atende.

HILDY - Sala da imprensa. Bruce, pensei que estivesse lá embaixo... O quê? Preso de novo? Por que desta vez?

DELEGACIA. Vemos Bruce, Vangie e alguns policiais.

BRUCE - Bem, eles chamam de "mão boba"... Eu não, Hildy! Eu estava no táxi em que me deixou. Uma moça teve uma tontura, e eu... Ela é meio...

Ela é loira, muito loira.

HILDY - Já sei o que houve. Um momento.

Hildy ligado outro telefone.

HILDY - Chame Walter Burns. (no outro fone) Onde você está? 27° distrito? Um momento. (no outro) Walter? Ele estava aí. Mas eu... "Não consegui localizá-lo." Traidor! Alô? Você não! Não posso ir agora. Que tal em 20 minutos? Preciso esperar o... Conto quando chegar. (desliga) Se eu puser as mãos no Walter.

McCue e outro entram.

MCCUE - Um instante. Posso ajudar?

HILDY - Tem dinheiro?

REPÓRTER - US$ 1,80.

REPÓRTER #2 - US$ 0,64.

HILDY - Valeu a intenção.

REPÓRTER (ao telefone) - O que é? Não tenho uma declaração oficial.

O prefeito entra.