15.8.09

HIS GIRL FRIDAY

(Jejum de Amor / Condenados ao amor)

Não vou nem comentar a tradução ridícula do título deste HIS GIRL FRIDAY (1940), dirigido por Howard Hawks ("Scarface" e "Rio Bravo", entre muitos outros), com roteiro de Charles Lederer ("Os Homens Preferem as Loiras" e "A Dama de Shanghai", entre outros) e baseado na peça "The Front Page" de Ben Hecht e Charles MacArthur.
Mas vou comentar sobre esta incrível película. Como meus leitores imaginários sabem, para mim os filmes que são o sumo do supra-sumo são aqueles em que o roteiro é o protagonista. Este é o caso, amiguinhos.
Em "His Girl Friday", a estrela da vez é o texto, altamente inspirado e inspirador, em que os personagens falamfalamfalam (tal como Woody Allen viria a fazer anos depois) e nem assim conseguem ser chatos, mas deliciosamente simpáticos.
Um dos dez melhores filmes de todos os tempos, o início do screwball e seu maior expoente até então, deveria constar em todas as listas de melhores que existem. O filme mais ágil já feito, com diálogos pra lá de espirituosos e é evidente que serviu de base a milhentas sitcoms (desde a inocente "I Love Lucy" até o inacreditavelmente hilário "Will and Grace").
Este roteiro eu traduzi da versão original retirando alguns termos técnicos supérfluos, os espaçamentos gigantescos e toda a parte embromativa. Só não retirei tudo porque não queria deixar apenas os diálogos; e só não acrescentei mais coisas porque não queria uma novelização.
Grr... Detesto novelizações!




FADE IN

TUDO ACONTECEU NA "IDADE DAS TREVAS" DO JORNALISMO QUANDO "CONSEGUIR AQUELA MATÉRIA" JUSTIFICAVA QUALQUER
ATITUDE DO REPÓRTER.
NÃO HÁ SEMELHANÇAS COM OS JORNALISTAS DE HOJE.
PREPARADOS?

INT. DIA - REDAÇÃO DO MORNING POST

Travelling, Sala cheia, Muita gente trabalhando, andando pra lá e pra cá.

REPÓRTER - (off) Mensageiro!

MAISIE - E o final desta matéria?

TELEFONISTA - "Morning Post". Redação? Um momento, vou passar a ligação.

WALTER - Se me procurarem, estarei no tribunal.

OFFICE-BOY - Elevador! Vou descer.

TELEFONISTA - Oi, Hildy.

HILDY - Oi, Magrela. Oi, Ruth. Oi, Maisie.

MAISIE - Oi, Hildy!

HILDY - O dono do mundo já chegou?

MAISIE - Já. De mau humor.

HILDY - Devem ter roubado as jóias da coroa.

MAISIE - Devemos anunciá-la?

HILDY - Não, eu mesma me anuncio. (a Bruce) Ele chegou. Espere aqui. Volto em 10 minutos.

BRUCE - É muito tempo para ficar longe de você.

HILDY - O que disse? Vamos. Diga.

BRUCE - Disse que é muito tempo para ficar longe de você.

HILDY - Eu tinha ouvido. Gostei, por isso pedi que repetisse. Posso ser mimada. O senhor que vou ver não é disso.

BRUCE - Gostaria de mimá-la. Não quer que eu vá junto?

HILDY - Eu me viro.

BRUCE - Se engrossar, estou aqui.

HILDY - Virei correndo. Oi, Jim.

Hildy vai andando em direção à sala de Walter enquanto cumprimenta a todos e todos sorriem para ela.

HILDY - Oi, como vai?

BEATRICE - Oi, Hildy.

HILDY - Oi, Beatrice. E os abandonados?

MULHER- Bem. Minha gata deu outra cria.

HILDY - Também tem culpa. É bom te rever. Como vai, Jim? Mildred, continua aqui?

HILDY entra na sala de WALTER e só depois bate à porta. Walter está de costas e não se vira.

LOUIE - Mais no queixo, chefe.

WALTER - O que quer?

LOUIE - Sua ex-esposa. Quer vê-la? Oi, Hildy!

HILDY - Oi, Walter. Oi, Louie. Como vai o rei do caça-níquel?

LOUIE - Não sou mais. Eu me aposentei. Entende?

DUFFY entra na sala:

WALTER - Estou ocupado.

DUFFY - Ouça, o governador não assinou a comutação da pena. Amanhã, Earl Williams morre e nós nos ferramos. O que vai fazer?

WALTER - Chame o governador ao telefone.

DUFFY - Não posso.

WALTER - Porque não?

DUFFY - Ele foi pescar.

WALTER - Há quantos locais de pesca?

DUFFY - Ao menos dois: O Atlântico e o Pacífico.

WALTER - Isso simplifica, não? Chame-o ao telefone.

DUFFY - Digo o quê?

HILDY - Silêncio, ele está pensando.

WALTER - Diga que, se comutar a pena, nós o apoiaremos para o Senado. Diga que o "Post" vai apoiá-lo.

DUFFY - Não pode fazer isso!

WALTER - Por que não?

DUFFY - Somos um jornal democrático há mais de 20 anos!

WALTER - Quando conseguirmos a comutação, voltaremos a ser democráticos. Ande logo. O jornal espera que os editores cumpram seu dever. Dê o fora também, Louie.

LOUIE - Certo, chefe.

HILDY - Vejo que continua o mesmo.

WALTER - É a primeira vez que traio um governador. Pois não?

HILDY - Posso me sentar?

WALTER - Há sempre uma luz para você na janela. Venha.

HILDY - Pulei dessa janela há muito tempo. (senta-se na mesa) Pode me dar um desses? (pega um cigarro) Obrigada. E um fósforo. (pega o fósforo que Walter lhe dá e o acende) Obrigada.

WALTER - Ora, ora, quanto tempo faz?

HILDY - O quê?

WALTER - Você sabe. Quando nos vimos pela última vez?

HILDY - Vejamos. Passei 6 semanas em Reno, depois fui às Bermudas. Uns 4 meses. Parece que foi ontem.

WALTER - Pode ter sido. Tem sonhado comigo?

HILDY - Não sonho mais com você. Você não me reconheceria mais.

WALTER - Reconheceria. A qualquer hora, em qualquer lugar

HILDY - Está se repetindo. Disse isso quando me pediu em casamento.

WALTER - Vejo que se lembra.

HILDY - Claro, ou não me divorciaria.

WALTER - Não deveria ter feito isso.

HILDY - O quê?

WALTER - Se divorciar de mim. Acaba com a autoconfiança. Dá uma sensação de não ter sido amado.

HILDY - Mas o divórcio é para isso.

WALTER - Bobagem. Acha que divórcios são para sempre até que a morte nos separe. Divórcios não significam nada. São apenas palavras murmuradas por um juiz. Temos algo que nada pode mudar.

HILDY - Acho que tem razão.

WALTER - Claro.

HILDY - Gosto de você, sabe.

WALTER - Muito bem.

HILDY - Queria que não fosse tão canalha.

WALTER - Latino, eu acho. Devia conhecer minha mãe...

HILDY - Por que prometeu não discordar do divórcio e fazer o possível para colaborar?

WALTER - Eu pretendia deixá-la ir, mas você não sente falta da água até o poço ficar seco.

HILDY - Um palerma como você, contratar um avião para escrever: "Hildy, não se apresse. Lembre-se da minha covinha, Walter." Atrasou 20 minutos o divórcio, enquanto o juiz foi olhar.

WALTER - Não quero me gabar, mas ainda tenho a covinha no mesmo lugar. Agi como qualquer marido que não quer ver seu lar desmoronar.

HILDY - Que lar?

WALTER - Lembra-se do lar que prometi?

HILDY - Claro que sim. Era o que teríamos logo após a lua-de-mel. Lua-de-mel!

WALTER - Tive culpa? Sabia que a mina ia desabar? Eu pretendia estar com você na lua-de-mel. Francamente.

HILDY - Em vez de duas semanas em Atlantic City com meu marido passei duas semanas numa mina de carvão com John Kruptzky. Não nega isso, não é?

WALTER - Eu me orgulho. Superamos todos com a matéria!

HILDY - É mesmo? Não casei para isso!

WALTER - De que adianta?

HILDY - Ouça, Walter, vim pedir que pare de ligar várias vezes por dia, de mandar telegramas...

WALTER - Escrevo lindos telegramas, não? Todos dizem.

HILDY - Vai escutar o que tenho a dizer?

WALTER - Ouça, para que brigar? Volte a trabalhar no jornal. Se conseguirmos nos dar bem nos casaremos de novo.

HILDY - O quê?

WALTER - Claro. Não guardo ressentimento.

HILDY - Você é maravilhoso de um modo odioso. Fique quieto e me deixe falar.

WALTER - Vamos almoçar.

HILDY - Já tenho compromisso.

WALTER - Desmarque.

HILDY - Não posso! Quer me soltar? Está brincando de osteopata?

WALTER - Calma.

HILDY - Ouça, você não é mais meu marido e nem meu chefe. E não vai ser meu chefe!

WALTER - O que quer dizer?

HILDY - O que eu disse.

WALTER - Não vai voltar para o jornal?

HILDY - Certo. Pela primeira vez hoje.

WALTER - Uma proposta melhor?

HILDY - Exato.

WALTER - Vai trabalhar com outro. É a gratidão que eu recebo!

HILDY - Pare de resmungar.

WALTER - O que era há 5 anos? Uma recém-formada em jornalismo. Peguei uma caipira bonita!

HILDY - Não me aceitaria se fosse feia.

WALTER - Por que deveria? Achei melhor ter alguém que não assustasse. Fiz de você uma grande repórter. Não seria boa em outro jornal. Precisamos um do outro, e o jornal precisa de nós! Vendido ao americano! Está bem!

HILDY - Ouça, por favor. O jornal terá de continuar sem mim e você também. Não deu certo.

WALTER - Teria dado se aceitasse ser apenas editora e repórter. Mas tinha de se casar comigo e estragar tudo!

HILDY - Eu não parece que fui eu que o pedi! Praticamente, ficou dois anos me olhando até eu terminar...

WALTER - "Oh, Walter!" E estava bêbado quando a pedi! Você devia ter esquecido, mas não! (Hildy atira algo nele, que desvia) Perdeu a pontaria. Já arremessou melhor. (atende o telefone) Alô? O quê? Sweeney, em que posso ajudar? Espere aí, é o Duffy. Não pode fazer isso comigo. Justamente hoje! O que houve? Ficou louco? Santo Deus! Ouça, isto não é hora... Está bem, eu acho. Se tem de ser assim! Tinha de ser. Que tal? Tudo me acontece. (desliga o telefone) 365 dias no ano, tinha de ser hoje!

HILDY - O que houve?

WALTER - Sweeney.

HILDY - Morto?

WALTER - O único que sabe escrever e resolve ter um bebê hoje!

HILDY - Não fez de propósito.

WALTER - Não interessa! Devia estar cobrindo Earl Williams e está andando no hospital! Não há honra neste país?

HILDY - Não tem mais ninguém?

WALTER - Ninguém que saiba escrever. Isso vai me ferrar, a menos... Hildy! Precisa me ajudar.

HILDY - Não, sem chance.

WALTER - (a alguém que entrou) Saia! Estou ocupado. (A Hildy) Por favor... Isso vai nos deixar unidos como éramos!

HILDY - É o que temo: "a qualquer hora, em qualquer lugar".

WALTER - Não deboche de mim! Não faça isso por mim, faça pelo jornal! Suma, Svengali. Se não por amor, por dinheiro. Dou mais US$ 25 por semana.

HILDY - Ouça, seu macaco cabeçudo US$ 35 e nem um centavo a mais! Vai me ouvir?

WALTER - Quanto o outro jornal ofereceu?

HILDY - Não há outro jornal!

WALTER - Então fica com o antigo salário. Tentando me chantagear! Estou ocupado!

HILDY - Dê uma olhada. Sabe o que é? Um anel de noivado.

WALTER - Anel de noivado?

HILDY - Tentei contar logo mas começou a divagar. Vou me casar e vou ficar o mais longe possível do jornalismo. Cansei!

WALTER - Pode se casar mas deixar o jornalismo, não.

HILDY - Por quê?

WALTER - Sei o que seria para você.

HILDY - O quê?

WALTER - Isso a mataria!

HILDY - Não vai me convencer disso.

WALTER - Você é um homem de imprensa.

HILDY - Por isso vou parar. Quero poder ser uma mulher.

WALTER - Uma traidora!

HILDY - Traidora de quê?

WALTER - Do jornalismo! É uma jornalista!

HILDY - Jornalista? E o que é isso? Espiar pela fechadura, acordar pessoas para perguntar se Hitler começará outra guerra? Tirar fotos de velhotas? Sei tudo sobre repórteres. Um bando de tontos correndo por aí sem um tostão e para quê? Para informar desocupados. Bom, eu... De que adianta? Você não sabe o que significa querer ser respeitável e ter uma vida mais ou menos normal. O fato é que cansei.

WALTER - Onde conheceu esse homem?

HILDY - Bermudas.

WALTER - Rico?

HILDY - Não é o que chamaria de rico. Ganha uns US$ 5 mil por ano.

WALTER - Trabalha em quê?

HILDY - No ramo de seguros.

WALTER - Seguros?

HILDY - É um negócio honesto, não?

WALTER - Claro que é. Também é emocionante, romântico... Não consigo imaginá-la cercada por apólices, apólices.

HILDY - Eu posso e eu gosto. Ele esquece o trabalho quando está comigo. Não me trata como um contínuo. Ele me trata como mulher.

WALTER - É mesmo? Eu a tratava como um búfalo?

HILDY - Não sei de búfalos, mas eu o conheço. É bom, gentil e atencioso. Quer um lar e filhos.

WALTER - Eu devia me casar com ele. Como se chama?

HILDY - Baldwin... Bruce Baldwin.

WALTER - Conheci um Baldwin. Ladrão de cavalos.

HILDY - Não pode ser o mesmo. Não se trata do homem com quem vou me casar amanhã.

WALTER - Amanhã? Tão cedo?

HILDY - Finalmente consegui contar o que queria. Acho que é só isso. Adeus, Walter.

WALTER - Adeus, Hildy.

HILDY - E mais sorte da próxima vez.

WALTER - Obrigado. Hildy, você me pegou de surpresa. Querida, desejo que tenha tudo que não pude dar. Esse outro cara, lamento não o ter conhecido. Sou meio exigente com quem minha esposa se casa. Onde ele está?

HILDY - Está aí fora, me esperando.

WALTER - Posso conhecê-lo?

HILDY - Não, não faria nenhum bem.

WALTER - Está com medo?

HILDY - Claro que não!

Walter e Hildy saem da sala e vão para o primeiro cenário.

WALTER - Então vamos conhecer esse modelo! Se é tão bom assim.

HILDY - É melhor!

WALTER - Então o que quer com você?

HILDY - Agora me pegou.

WALTER - Volto em uma hora. Desculpe. Acho que Bruce...

HILDY - Baldwin.

WALTER - ...abre as portas para você.

HILDY - Abre. E, comigo, tira o chapéu. E, ao andar, ele me espera.

WALTER - Nesse caso... Permita-me. Vejo que minha esposa escolheu o marido certo. Como vai?

DAVIS - Deve haver um engano. Já sou casado.

WALTER - Já é casado? (A Hildy) Hildy, devia ter dito. (a Davis) Parabéns de novo, Sr. Baldwin.

DAVIS - Não, meu nome...

BRUCE - Mr. Burns.

WALTER - Estou ocupado. Deixe um cartão com ele. Como disse?

BRUCE - Sr. Burns... Meu nome é...

WALTER - Outra hora. Estou ocupado com o Sr. Baldwin. Eu ia dizer que...

BRUCE - Meu nome é... Mr. Burns...

WALTER - O que há com você?

BRUCE - Sou Baldwin.

WALTER - Você é Baldwin? E quem é ele? Quem é você?

DAVIS - Meu nome é Davis.

WALTER - Sr. Davis, isto é da sua conta? Então não se meta nos meus assuntos. Que isso não se repita. (A Baldwin) Lamento o engano. É um prazer. Isso está errado. Bruce posso chamá-lo de Bruce? Somos quase parentes.

BRUCE - Sem dúvida.

WALTER - Minha esposa isto é, sua esposa quer dizer, Hildy, você me fez pensar que se casaria com um homem mais velho.

HILDY - É mesmo? E o que eu disse para que pensasse...

WALTER - Não se preocupe.... Entendo que não se referia à idade. Sempre carrega guarda-chuva?

BRUCE - Estava meio nublado de manhã.

WALTER - Certo. Galochas também, espero.

BRUCE - Um homem deve estar preparado para emergências.

HILDY - É melhor irmos andando.

WALTER - É mesmo. Aonde vamos?

BRUCE - Almoçar. Não disse a ele?

HILDY - Não.

BRUCE - Ela queria surpreendê-lo. Depois de você.

WALTER - Depois de você, Hildy.

Saem de cena, entrando no elevador.

INT. DIA - Restaurante.

HILDY - É perda de tempo. Não adianta.

WALTER - Não, estou achando ótimo.

HILDY - Olá, Gus.

GUS - Não me diga que é você, Hildy.

HILDY - Eu mesma. Como vão as coisas?

GUS - Não posso reclamar.

WALTER - Eu posso. Estou com fome. Um sanduíche de rosbife...

Bruce quase senta-se sobre Walter e muda de cadeira, ficando em frente a Hildy.

BRUCE - Desculpe.

WALTER - ...no pão branco. Ali, Bruce. E você, Hildy?

HILDY - A mesma coisa.

GUS - E o senhor?

BRUCE - Está bom para mim.

WALTER - E traga mostarda.

Gus, o garçom, sai de cena.

WALTER - Então vão se casar. O que está achando, Bruce?

BRUCE - É muito bom, sim, senhor.

WALTER - Arrumou uma ótima garota.

BRUCE - Eu sei. Tudo mudou para mim desde que a conheci. Não conheci ninguém como ela. Todas que conheci sempre dava para saber o que iam dizer ou fazer.

WALTER - Mas Hildy não é assim. Não se pode dizer isso dela.

BRUCE - Isso é bom.

WALTER - Também arrumou um homem de imprensa.

HILDY - Sem floreios, Walter.

WALTER - Dos melhores que conheci. Lamento muito vê-la ir embora.

HILDY - Espero que fale sério.

WALTER - É sério. Se quiser voltar para o jornalismo...

HILDY - Não vou. Apesar de tudo, eu só trabalharia para um homem.

WALTER - Eu a mataria se trabalhasse para outro.

HILDY - Ouviu, Bruce? É meu diploma.

BRUCE - Deve ser um negócio e tanto. Você quer mesmo parar?

HILDY - O que quer dizer?

BRUCE - Se tiver alguma dúvida ou se houver algo... Não, é a sua chance de ter um lar e ser como disse, um ser humano e quero que tenha essa chance. Claro.

WALTER - Eu não a deixaria ficar. Ela merece ter todas as coisas que não pude dar. Ela só queria um lar.

BRUCE - Vou tentar dar um a ela.

WALTER - Sei que vai. Onde vão morar?

BRUCE - Albany.

WALTER - Albany? Tem família lá?

BRUCE - Só minha mãe.

WALTER - Mãe? Vão morar com ela?

BRUCE - Só no primeiro ano.

WALTER - Isso vai ser bom. Um lar com uma mãe. E em Albany. É uma bela cidadezinha. É a capital do Estado.

WALTER - Eu sei. Estivemos lá uma vez. Vai esquecer a noite em que levou o governador para o hotel? Eu estava tomando banho. Saí sem a... Ela não sabia que eu estava na cidade. Como são os negócios lá? Melhores?

BRUCE - É uma boa cidade para seguros. Muita gente faz desde cedo.

WALTER - Posso entender.

BRUCE - As estatísticas mostram que...

WALTER - Tenho a sensação de que deveria ter feito seguro. Claro que não importa agora que Hildy e eu você sabe, nós... O que você acha? Mas teria sido uma boa idéia ter feito seguro.

BRUCE - Acho que sim. Estou num ramo que ajuda as pessoas. Não ajudamos muito enquanto está vivo, mas depois é o que conta.

WALTER - Claro.

Hildy chuta Walter.

HILDY - Desculpe, meu pé escorregou.

GUS reaparece.

GUS - Tudo bem. O que quer beber?

WALTER - Café.

GUS - Quer com rum? Está frio.

WALTER - Claro.

HILDY - Para mim também.

GUS - E o senhor?

BRUCE - Não, obrigado.

WALTER - Vamos, Bruce.

BRUCE - Preciso comprar as passagens, enviar a bagagem.

WALTER - Faça amanhã. Há muito tempo.

HILDY - Partiremos às 16 horas para Albany.

WALTER - Vão partir hoje às 16 horas? Daqui a duas horas. Não temos muito tempo. Ainda tenho que (derruba uma bebida em si mesmo) Vejam isso, me molhei todo!

HILDY - Não é novidade. Tome.

WALTER - Pode deixar.

Walter levanta-se e vai falar com Gus.

WALTER - Gus, me ajude aqui, por favor. Assim que eu voltar à mesa, me chame ao telefone. Está ótimo, Gus, obrigado.

Wlater volta à mesa e senta-se.

WALTER - Sinto muito. Que bobagem. Bruce, deixe-me entender. Devo ter entendido mal. Vão pegar o trem-leito hoje e se casar amanhã?

BRUCE - Não é bem assim.

WALTER - Como é?

HILDY - Pobre Walter. Vai passar a noite em claro. Conte logo que mamãe vai também.

WALTER - Sua mãe chutou o pau da barraca.

BRUCE - Não, minha mãe.

WALTER - Sua mãe! Isso me tranquiliza.

BRUCE - Foi cruel deixá-lo sofrer assim.

HILDY - O Walter não é adorável? Sempre tentando me proteger.

WALTER - Admito que não fui um bom marido, mas pode contar comigo.

BRUCE - Acho que ela não vai precisar. Pretendo protegê-la.

GUS - Sr. Burns, telefone.

WALTER - Para mim? Que estranho! Com licença.

Walter levanta-se e sai de cena.

BRUCE - Sabe, ele não é tão mau.

HILDY - Não, vai fazer alguma garota feliz. Muito feliz.

BRUCE - Ele não é o homem para você, mas gosto dele. É muito charmoso.

HILDY - É nato. O avô dele era uma cobra.

WALTER ao telefone.

WALTER - Alô, Duffy, escuta podemos impedir que o trem das 16h para Albany deixe a cidade?

DUFFY (VO) - Podemos dinamitá-lo.

WALTER - Podemos? Talvez não. Faça o seguinte: mande Sweeney sair da cidade por duas semanas. Mantenha sua camisa. Calma, Hildy vai voltar. Ainda não sabe, mas juro que vai ficar. Peça ao Louie para ficar no escritório. Posso precisar dele. Adeus.

Walter volta à mesa e senta-se.

WALTER - Más notícias.

HILDY - O que houve?

WALTER - O caso Earl Williams.

BRUCE - Li sobre o caso.

WALTER - Está feio.

HILDY - Quais são os fatos?

WALTER - Simples, querida. Ele perdeu o emprego, se descontrolou e matou o tira que quis acalmá-lo. Vão enforcá-lo amanhã.

BRUCE - Que absurdo! Seu jornal está do lado dele? Se ele estava descontrolado, por que apenas não o prendem?

WALTER - O tira era negro. Sabe como é.

HILDY - O voto dos negros é fundamental.

WALTER - A eleição é em 4 dias.

HILDY - O prefeito enforcaria a avó pela reeleição.

BRUCE - Mostre que não foi responsável.

WALTER - Não é tão fácil.

HILDY - Talvez não seja tão difícil.

WALTER - Como assim?

HILDY - Ele será examinado de novo antes de ser enforcado?

WALTER - Claro. Por um tal Egelhoffer. Dirá o mesmo que o resto.

HILDY - E se disser?

WALTER - Qual é o plano?

HILDY - Consiga a entrevista com Earl. Publique a declaração do perito. E junto, em coluna dupla, publique sua entrevista. "Médico diz que ele é são. Entrevista mostra que é louco." Você consegue. Pode salvar a vida desse coitado.

WALTER - Você podia... Não, você vai viajar. Esqueci.

BRUCE - Quanto tempo demoraria?

WALTER - Uma hora a entrevista, mais uma para redigir.

BRUCE - Podemos pegar o trem das 18 horas, se for para salvar uma vida.

HILDY - Não, se quiser salvá-lo redija você a entrevista.

WALTER - Sabe que não posso. É preciso um toque feminino.

HILDY - Não seja poético. Peça a Sweeney. É o melhor do jornal.

WALTER - Coitado. Duffy disse que a esposa teve gêmeos. Não é horrível? Ele saiu para comemorar e desapareceu. Sweeney tem gêmeos, e Earl será enforcado amanhã.

HILDY - Não é tão ruim...

WALTER - Discuta com ela ou irão para a lua-de-mel com culpa. Como serão felizes? Um homem terá morrido porque ela não pôde esperar duas horas! O rosto dele estará entre vocês no trem, no casamento e para o resto da vida!

HILDY - Pare! Que farsa! Acabei de me lembrar que Sweeney casou há 4 meses.

WALTER - Está bem, você venceu.

BRUCE - Então a esposa não teve gêmeos?

HILDY - Não, os gêmeos eram do Walter.

WALTER - Não foi nada. Vamos esquecer. Vamos recomeçar. Tenho duas propostas.

HILDY -Não interessa.

WALTER - Você se interessará, é esperto.

HILDY - Não ouça. Eu o conheço...

WALTER - Desculpe, estou falando com ele. Ouça, Bruce, convença-a a escrever a matéria, e eu comprarei uma apólice.

BRUCE - Não usaria minha esposa para fazer negócios.

HILDY - Espere um pouco. Walter, que apólice?

WALTER - US$ 25 mil.

HILDY - US$ 50 mil. Qual a comissão de US$ 100 mil?

BRUCE - US$ 1 mil, mas...

HILDY - O que tem de mais?

BRUCE - Eu não poderia...

HILDY - Nós podemos usar este dinheiro. Seria bom. Quanto tempo demora para examiná-lo?

BRUCE - O médico viria em 20 minutos.

Walter interfere.

HILDY (A Walter) - Fique fora disso. Faça com que ele seja examinado no escritório para ver como está a carcaça.

WALTER - Estou melhor do que nunca!

HILDY - Não tem do que se gabar. Vou trocar de roupa. Depois que pegar o cheque, me ligue. Estarei na sala de imprensa do prédio do tribunal. Faça um cheque visado.

WALTER - Acha que sou vigarista?

HILDY - Sim. Sem cheque visado, sem matéria, entendeu?

WALTER - Será visado. Quer digitais?

HILDY - Não, essas eu ainda tenho.

Walter vai ajudar Hildy a vestir o casaco, mas passa-o a Bruce e vai falar com o garçom.

WALTER - Quanto devo?

HILDY - Obrigada, querido. Desculpe. Quanto tem aí?

BRUCE - Tudo que temos: US$ 500.

HILDY - Deixe comigo.

BRUCE - Mas e as passagens?

HILDY - Eu compro. Sei o que estou fazendo. Ele vai fazer você jogar.

BRUCE - Eu não jogo!

HILDY - Muita gente não fazia nada até conhecer Walter.

BRUCE - Está bem, mas é tudo que temos.

HILDY - Eu sei.

WALTER - Tem troco para 10?

HILDY - Entende o que eu digo?

BRUCE - Dei tudo para Hildy. Só tenho...

WALTER - Vamos, Hildy.

HILDY - Eu não. Assine.

WALTER - Está bem. (Walter pega uma moeda de Bruce) Para o garçom.

HILDY - Venha, Bruce.

MORNING POST - Sala de imprensa / Pessoal jogando cartas e atendendo telefones.

REPÓRTERES - US$ 0,10.
Eu entro.
Eu passo.
Wilcox, 3400. Quantas?
Duas.
Não vai fazer nada, Ernie. O que há com vocês? Estão inválidos?
Só apostarei 20 centavos.

O telefone toca.

ENDICOTT - Sala da imprensa. Um momento. Alô? É McCue. Um momento. O quê? Não, eu disse que é a sala da imprensa. Jake, novidades. O médico de Nova York, Dr. Egelhoffer vai entrevistar Williams daqui a uma hora na sala do xerife. Deve ser o décimo. Se ele não era maluco antes ficará depois que esses médicos o analisarem. Sala da imprensa.

REPÓRTERES - Esse cara é bom?
Adivinhe você.
Foi enviado a Washington para entrevistar o Grupo de Peritos. E disse que eram sãos.
Esta é a situação na véspera do enforcamento.
Vou pegar bolo. Aqui é Murphy. Mais notícias do enforcamento.
Guarda dupla na prisão, edifícios públicos e terminais ferroviários como preparação para a esperada manifestação de radicais na hora da execução.
O xerife pôs mais 200 parentes na folha de pagamento para nos proteger do Exército Vermelho que deixará Moscou em minutos. Mas, quando a ameaça vermelha chegar mesmo o xerife estará dando alarme falso. O que tem?

ENDICOTT - Está bom?

HILDY - Parece bom daqui.

Hildy, quando voltou?

HILDY - Oi, Eddie.

REPÓRTER - Que bom te ver.

OUTRO REPÓRTER - Onde arrumou o chapéu?

HILDY - Custou US$ 12.

REPÓRTER - De volta ao trabalho?

HILDY - Só vim me despedir. Vou trabalhar por conta própria.

REPÓRTER - Fazendo o quê?

HILDY - Vou me casar amanhã.

REPÓRTER - De novo? Estamos convidados?

HILDY - Posso usá-lo como dama de honra. Como vai, Murphy?

REPÓRTER - Por que vai se casar?

HILDY - Não é da sua conta.

REPÓRTER -- Está nos enganando?

HILDY - Vejam o que eu trouxe. 3 passagens pra Albany no trem das 18 horas de hoje.

REPÓRTER - Três?

HILDY - Para mim, meu noivo e imaginem, sua doce mãezinha.

REPÓRTER - Que casamento é esse?

HILDY - Vai dar certo. Vou me acomodar. Cansei do jornalismo.

REPÓRTERES - Imaginam Hildy cantando canções de ninar e pendurando fraldas?
- E fofocando no quintal?

HILDY - Despeitados.

REPÓRTER - Vai cansar de bater tapetes.

HILDY - Não vou bater (barulho) Vem da escola, não? Não há ninguém lá agora.

REPÓRTER - E daí? Largou tudo. Não tinha cansado?

HILDY - Só achei que podia ser incêndio. O que é isso?

REPÓRTER - Treino para a festa de amanhã.

REPÓRTER - Perderá um belo enforcamento.

Parte #2

HILDY - Não me interessa.

REPÓRTER - Mande calarem a boca.

OUTRO REPÓRTER - Fiquem quietos! Como esperam que a gente trabalhe?

POLICIAL - Cale-se!

REPÓRTER - Não respeitam a imprensa aqui.

HILDY - Alguém me ligou?

REPÓRTER - Não que eu saiba.

OUTRO REPÓRTER - Walter sabe que vai se casar?

HILDY - Almocei com ele.

REPÓRTER - Disse que vai parar?

HILDY - Disse. Mais perguntas?

REPÓRTER - Quer jogar?

HILDY - Não tenho tempo. Vou escrever sobre Williams. Ele sabia o que estava fazendo quando atirou?

REPÓRTER - Se nos perguntar, não. Se perguntar ao médico, "sim".

HILDY - Quem é ele? O que faz?

REPÓRTER - Era guarda-livros. Começou com US$ 20 semanais e após 14 anos passou a US$ 17,50.

HILDY - Tem chiclete?

REPÓRTER - Não. A empresa faliu e ele perdeu o emprego.

HILDY - Não arrumou outro?

REPÓRTERES - Eu topo.
Eu também.
Começou a vagar pelo parque, ouvindo discursos idiotas começou a acreditar neles. E fez alguns.
Mais US$ 0,10.
Eu topo.

ESCRITÓRIO DE WALTER. Doutor examinando Walter.

WALTER - Algo mais, doutor?

Doutor guarda suas coisas numa maleta.

DOUTOR - Não, é tudo.

WALTER (vestindo a camisa) - Está tudo bem?

DOUTOR - Não há com o que se preocupar.

WALTER - Ótimo. E então, Bruce?

BRUCE - Só mais uma coisa.

DOUTOR - Bom dia, Sr. Burns, Sr. Baldwin.

Doutor sai de cena.

BRUCE - Até logo e obrigado. (A Walter) Quem é o beneficiário?

WALTER - Como disse?

BRUCE - No caso da sua morte, a quem pagaremos?

WALTER - Hildy, claro!

BRUCE - Não sei. Eu me sentiria meio estranho.

WALTER - Por que eu não faria dela a sei-lá-o-quê?

BRUCE - Eu devo cuidar dela.

WALTER - Mas vai cuidar! Se o médico tem razão, ainda vou durar muito. É uma dívida de honra para mim. Fui péssimo marido! Ela podia ter pedido pensão, mas não. Ela tinha direito, mas era muito independente.

BRUCE - Também sou.

WALTER - Eu sei disso! Mas pense assim: ainda vou viver uns 25 anos. Até lá terá tanto dinheiro que isso não fará diferença. Mas suponha que não tenha se dado bem. E a velhice de Hildy? Posso vê-la. Cabelos brancos, lilás e rendas. Não pode vê-la?

BRUCE - Sim, eu posso.

WALTER - Ela está velha, não está? Não acha que ela merece passar os últimos anos sem preocupações financeiras?

Duffy entra na sala.

BRUCE - Claro que sim! Se coloca assim...

WALTER - E lembre-se, eu também a amo.

BRUCE - Estou começando a ver isso.

WALTER - E o melhor é que ela só saberá depois que eu morrer. Talvez ela tenha carinho por mim depois que eu partir.

BRUCE - Parece que estou entre vocês.

WALTER - Você não está entre nós. Já tinha acabado para ela antes de você aparecer. Para mim nunca acontecerá. O que é?

DUFFY - Posso falar com você?

WALTER - Com licença.

Walter sai da sala e vai falar com Duffy.

WALTER - Conseguiu? Onde está? Visado?

DUFFY - Claro. Mas é de US$ 2.500! Aqui está! Visado e tudo mais!

Walter volta à sala, onde Bruce guarda seus papéis.

WALTER - Visado!

BRUCE - Hildy terá vergonha de pensar que não confiou em você, mas um dia ela saberá.

WALTER - Prometeu ligar assim que pegasse o cheque.

BRUCE - Claro!

Walter entrega o telefone a Brue.

BRUCE - Hildy, sala da imprensa, prédio do tribunal.

WALTER - Sente-se. A telefonista vai completar. Com licença.

Walter sai da sala.

BRUCE - Alô? Sim, eu espero. Pode falar. Hildegarde. Obrigada.

HILDY - É Hildy Johnson. Alô, Bruce.

REPÓRTER - Estou jogando há uma hora...

HILDY - Silêncio, por favor. Alô? Conseguiu o cheque? Está visado?

BRUCE - Visado e tudo mais. Está aqui no meu bolso.

HILDY - No bolso. Isso é bom. Espere, talvez não. Onde você está?

BRUCE - No escritório do Sr. Burns.

HILDY - Ele está aí? Não quero que fique com esse cheque no bolso. Porque eu sei disso, mas nos jornais dizem que o primeiro cheque recebido deve ficar no forro do chapéu. No chapéu! Dá sorte.

REPÓRTER - Sou repórter e nunca ouvi isso.

HILDY - Nem eu. Sei que parece bobo mas faça por mim, por favor. Agora mesmo.

BRUCE - Um momento.

Bruce coloca o cheque em seu chapéu.

BRUCE - Pronto, já pus. Mais alguma coisa?

HILDY - Sim.

BRUCE - Está bem. Direi a ele. Até logo.

WALTER - Tudo bem, Bruce?

BRUCE - Hildy disse que já vai começar.

WALTER - Ótimo.

BRUCE - Preciso ir agora.

WALTER - Não esqueça isso. Pode chover.

Walter lhe entrega o guarda-chuva.

BRUCE - Obrigado.

WALTER - Importa-se se eu não o acompanhar? Estou ocupado.

BRUCE - Obrigado por tudo.

WALTER - Como disse?

BRUCE - Obrigado por tudo.

WALTER - Bobagem. Eu é que agradeço.

BRUCE - Até logo.

WALTER - Até logo.

DELEGACIA. HILDY ENTRA. COOLY ESTÁ SENTADO DE COSTAS PARA A PORTA. VIRA-SE QUANDO ELA LHE FALA.

HILDY - Oi, Cooley.

COOLEY - Hildy, o que faz aqui?

HILDY - Quero uma entrevista com Earl.

COOLEY - Chega de entrevistas.

HILDY - Por que não?

COOLEY - Ordens do xerife. O doutor vai chegar. Não dá.

HILDY - Esse dinheiro é seu?

COOLEY - Acho que não.

HILDY - US$ 20?

COOLEY - Acho que sim.

HILDY - Foi o que pensei.

COOLEY - Vamos logo. Joe, abra aqui. Hildy, não...

Um dos guardas abre o portão da cela de Earl e Hildy entra.

HILDY - Não vou demorar. Olá, Earl. Meu nome é Johnson. Posso falar com você?

Hildy puxa uma cadeira e senta-se próxima à grade de proteção.

EARL - Não tenho mais nada a fazer.

HILDY - Certo.

EARL - Não pude alegar insanidade, porque sou são.

HILDY - Não queria matar o policial?

EARL - Não. É contra tudo que acredito. Sabem que foi acidente. Não sou culpado... é o mundo!

HILDY - Entendo. Desculpe o batom. Depois que perdeu o emprego o que fez?

EARL - Tentei achar outro.

HILDY - Como passava o tempo?

EARL - Ficava sentado no parque. Não fumo.

HILDY - No parque, ouvia discursos? Aqueles caras que falam demais?

EARL - Não prestava atenção.

HILDY - Ouvia o que diziam?

EARL - Sim.

HILDY - Lembra de algo em particular?

EARL - Havia um cara.

HILDY - Do que ele falava?

EARL - Produção útil.

HILDY - Produção útil?

EARL - Disse que tudo deveria ter utilidade. Faz sentido, não? Gostei dele. Era bom.

HILDY - Quando se viu com a arma na mão e o policial se aproximou em que pensou?

EARL - Eu não sei exatamente.

HILDY - Pensou em algo. Seria em "produção útil"?

EARL - Não sei.

HILDY - Para que serve uma arma?

EARL - Uma arma? Para atirar, claro.

HILDY - Pode tê-la usado por isso.

EARL - Talvez.

HILDY - Parece razoável.

EARL - Sim, é. Nunca tive uma arma na mão. E é para isso que serve, não? Talvez seja porque...

HILDY - Claro.

EARL - Foi o que pensei. Produção útil. Simples, não?

HILDY - Muito simples.

EARL - Não há nenhuma loucura nisso.

HILDY - Nenhuma.

EARL - Vai escrever isso no jornal?

HILDY - Claro. Quem mandou as rosas?

EARL - Srta. Malloy. É maravilhosa.

HILDY - É ela?

EARL - Sim. É linda, não?

COOLEY - Acabou, Hildy.

HILDY - Está bem. Acho que é só.

Hildy levanta-se e coloca a cadeira de volta no lugar.

EARL - Gostei de falar com você. Adeus, Srta. Johnson.

HILDY - Adeus, Earl. Boa sorte.

MORNING POST. Repórteres jogando.

REPÓRTER - Três damas.

OUTRO REPÓRTER - Melhorou, não?

REPÓRTER - O que o jornal fará sem Hildy? Acha que Walter a deixará ir? Lembra o que fez com Fenton? Foi preso como incendiário.

REPÓRTERES - Falsificador.
- Foi isso?
- Foi. Me dê troco.
Ei, Mac, é o Sam.
Pode acender as luzes?
Está ficando muito escuro.

MURPHY - Com quem Hildy vai casar?

ENDICOTT - Não sei. Bruce alguma-coisa.

SCHWARTZ - Dou seis meses para o casamento.

MCCUE - Por quê?

SCHWARTZ - Vai sentir falta do jornal. Viu quando o alarme soou?

REPÓRTER - Deve ser bom poder sair de um lugar e se demitir. Ano passado, me ofereceram um emprego. Eu devia ter aceitado. Queria um trabalho paralelo. Uma mesa e uma estenógrafa. Não me importaria com uma loirona. Com olhos castanhos.

SCHWARTZ - Aposto que não dura seis meses.

REPÓRTER - Ela é como nós, ou não ficaria esperando o cara.

Mollie Malloy entra na sala, um pouco irritada.

MCCUE - Ora, ora, Srta. Malloy.

MURPHY - Oi, Mollie, como vai?

MALLOY - Estava procurando vocês.

WILSON - Veio visitar Williams?

ENDICOTT - Belas rosas. O que quer que façam com elas amanhã?

MALLOY - Como são espertinhos.

SCHWARTZ - Vai estragar o jogo. O que quer?

MALLOY - Eu vim dizer o que penso de todos vocês.

MURPHY - Não se descontrole.

MALLOY - Se valesse a pena, eu quebraria a sua cara!

MURPHY - O que houve? Não lhe demos uma matéria bacana?

MALLOY - Estão me fazendo de boba há muito tempo. Nunca disse que amava Earl e que me casaria com ele. Vocês inventaram isso. E sobre termos um ninho de amor.

BENSINGER - Vive lá desde que ele foi preso.

MALLOY - É mentira!

ENDICOTT - Todos sabem que são namorados.

MALLOY - Estive com o Sr. Williams apenas uma vez. Ele estava vagando na chuva sem chapéu e casaco um dia antes do tiro.

REPÓRTER - Quero uma.

MALLOY - Fui até ele e perguntei o que estava acontecendo. Ele disse que fora despedido após 14 anos no mesmo emprego.

REPÓRTER - Apostas?
- US$ 0,20.

Hildy entra na sala e começa a datilografar.

MALLOY - Eu o levei para o meu quarto porque era quente!

MURPHY - Diga num alto-falante.

MALLOY (chorando) - Ouçam, por favor! Ele passou a noite sentado, falando comigo. Não tocou em mim. De manhã, foi embora. Só voltei a vê-lo no julgamento. Claro que fui testemunha!

ENDICOTT - E que testemunha.

MALLOY - Por isso estão me perseguindo. Ele me tratou com decência e não como um animal.

MURPHY - Estamos ocupados.

WILSON - Vá ver seu namorado.

ENDICOTT - Ele tem um belo quarto. Não por muito tempo. Até às 7.

MALLOY - Por que um raio não fulmina todos vocês? (barulho) O que é isso?

ENDICOTT - Estão preparando a forca.

Malloy vai até a janela e vê os policiais preparando a forca.

MALLOY - Que vergonha! Que vergonha! Um coitado que nunca fez mal a ninguém esperando o Anjo da Morte...

MURPHY levanta-se e tenta levar Malloy para fora.

MURPHY - Vá embora daqui.

MALLOY - Tire as mãos de mim!

HILDY - Vamos sair daqui.

MALLOY - Não são humanos!

HILDY - Eu sei. São jornalistas.

MALLOY - Eles só mentem! Só escrevem mentiras! Por que ninguém me escuta? Por que ninguém me escuta?

Hildy consegue levar Malloy pra fora. Ambas saem de cena. O telefone toca.

WILSON - Alô? Quem? Hildy Johnson? Um momento, ela já volta.

MURPHY - Mais cartas?

ENDICOTT - Para quê? Não ganho mesmo.

HILDY - Cavalheiros da imprensa.

WILSON - Hildy. Telefone para você.

Hildy atende.

HILDY - Olá, Bruce. O quê? Onde está? Onde? Como isso aconteceu? Tudo bem, eu já vou.

Hildy pega sua bolsa e sai em disparada porta afora, pisando no pé do xerife que vai entrando.

HILDY - Desculpe.

Hildy sai de cena. O xerife Pete entra na sala, reclamando da dor.

WILSON - Oi, xerife, como vai?

HARTWELL - Minha canela e minhas costas! O que está havendo aqui?

ENDICOTT - Bruce está em apuros. Leoas defendem os filhotes.

MCCUE - O homem esquece o lenço, a mãe vai limpar o nariz.

SCHWARTZ - Ainda dou 6 meses ao casamento.

HARTWELL - Não sei do que estão falando.

REPÓRTER - O que quer, Pete?

HARTWELL - Tenho entradas pro enforcamento.

BENSINGER - Por que não o enforcam às 5 h em vez de às 7 h? Pra fazermos a edição da cidade.

HARTWELL - É difícil. Não posso enforcar alguém para agradar um jornal.

REPÓRTER - Mas pode fazer o enforcamento cair três dias antes da eleição. Você pode fazer isso.

HARTWELL - Sério não tive nada a ver com isso.

REPÓRTER - Quem diz que não haverá outra. Se o médico disser que é louco.

HARTWELL - Não dirá, porque ele não é. É tão são quanto eu.

REPÓRTER - Mais!

HARTWELL - Falem sério. É um enforcamento! Vai obedecer o horário. 7 h e nem um minuto antes. Afinal, é preciso ser humano.

REPÓRTER - Nunca mais peça favores, Pinky.

HARTWELL - E não me chamem de Pinky.

REPÓRTER - Por quê?

HARTWELL - Porque eu tenho nome: Peter B. Hartwell!

REPÓRTER - "B" de quê?

- Burro.

- "B" de quê?

- Burro.

Dissolve. Plano americano de Bruce numa cela. Hildy está falando com ele e com o delegado.

BRUCE - Sou inocente. Nunca fiz nada. Nunca roubei um relógio!

HILDY - Sei que não. Mike, deixe-o sair.

DELEGADO - Não posso. Foi acusado de roubar um relógio, e estava com ele.

BRUCE - Nunca roubei...

HILDY - Por favor. Louie o acusou? O maior patife da cidade.

DELEGADO - Sei que...

HILDY - Vai soltá-lo ou não vai?

BRUCE - Nunca roubei.

HILDY - É melhor ler o "Post" de manhã.

Dissolve. Hildy e Bruce estão dentro de um táxi em movimento.

BRUCE - Não posso imaginar quem tenha feito isso. Não tenho inimigos. Sei que...

HILDY - Está com o cheque?

BRUCE - Está bem aqui. É uma superstição engraçada.

Bruce tira o cheque do chapéu e o entrega a ela.

HILDY - É mesmo.

BRUCE - Até pensei que Burns tivesse algo a ver com a prisão, mas logo vi que não.

HILDY - Por quê?

BRUCE - É uma boa pessoa. Eu achei...

HILDY - O que houve?

BRUCE - Perdi minha carteira!

HILDY - Tudo bem, estou com o dinheiro. É bom me dar o cheque também.

BRUCE - ...E a nossa foto nas Bermudas.

HILDY - Vai dar falta de muita coisa.

O taxi estaciona. Hildy salta.

HILDY - Espere aqui. Não vou arriscar. Volto logo para pegarmos o trem.

Hildy entra no prédio do Post.

WILSON (lendo) - "E então, naquela mente torturada veio a idéia de que a arma fora produzida para ser útil, E ele a usou. Mas o Estado também tem uma produção útil. Tem forcas. E, às 7 h, se não ocorrer um milagre a forca será usada para separar a alma de Williams do corpo. E Mollie Malloy terá perdido a única boa alma que conheceu."

REPÓRTERES - Foi o que ela escreveu.
Ela é boa de entrevista ou não?
Se não aparecer ninguém...
Não é ético ler o que não é seu.
De onde tirou isso?
Não tem ética nenhuma.
Mas quem escreve assim não vai desistir do trabalho para cerzir as meias do marido.
Dou três meses a esse casamento e aposto 3 contra 1.
Alguém topa?
Eu topo.

Hildy entra.

HILDY - Não se pode sair da sala sem virar assunto de velhotas. "Post"? Walter Burns, por favor.

REPÓRTER - Calma. Só dissemos que uma repórter não desiste assim.

HILDY - Aqui é Hildy Johnson. Posso desistir sem um tremor. Viverei como um ser humano. (ao telefone) Walter? Tenho novidades. Consegui a entrevista, mas tenho novidades. É melhor pegar um lápis e anotar. Pronto? Seu macaco traidor! Não haverá entrevista nem matéria e seu cheque visado vai partir comigo dentro de 20 minutos. E eu não cobriria nenhuma matéria pra você! E se o vir de novo vou martelar sua cabeça como um gongo! Não sabe por que estou zangada? Peça a Louie para te contar. Só mais uma coisa. (rasga o papel) Ouviu isso? É a matéria que escrevi. Sei que temos um acordo. Disse que escreveria não que não rasgaria. Está em pedaços e espero fazer o mesmo com você! É o meu adeus ao jornalismo! Vou ser uma mulher! Vou ter bebês, cuidar deles, ver os dentes deles nascerem e, se olharem para um jornal, eu os mato. Meu chapéu?

Hildy larga o telefone, pega a matéria que escreveu...

REPÓRTER - Sr. Burns, ela ainda está aqui.

Hildy pega o fone:

HILDY - Dê-me isso. E tem mais...

... e rasga o papel. Veste o casaco, pega o chapéu e a bolsa.


INT. DIA - DELEGACIA. Pete e Egelhoffer.

HARTWELL - Oi, doutor, desculpe o atraso.

EGELHOFFER - Tudo bem.

HARTWELL - Esses jornalistas me tomam tanto tempo. Queriam mudar o horário do enforcamento. Oi, Earl.

EGELHOFFER - Estes jornais!

HARTWELL - O que aguentei em Chicago!

EGELHOFFER - Eu acredito!

HARTWELL - Viviam querendo entrevistas.

EGELHOFFER - Eu também. Prometi dar uma declaração quando acabarmos aqui. Posso?

HARTWELL - Não é ético. Todas as declarações devem vir de mim.

EGELHOFFER - Entendo. E se dermos uma coletiva? Posso discutir os aspectos psicológicos do caso, e você...

HARTWELL - Sairíamos juntos nas fotos?

EGELHOFFER - Apertando as mãos.

HARTWELL - Ótima idéia!

EGELHOFFER - Não sou muito fotogênico.

HARTWELL - O que importa é a publicidade.

EARL - Estou ficando cansado. Posso voltar para a cela?

HARTWELL - Esqueci que estava aí.

EGELHOFFER - Não, tenho algumas perguntas. Pode diminuir as luzes? Vamos fazer o que viemos fazer.

HARTWELL - Vejamos...

Pete apaga as luzes e mantém apenas um refletor bem no rosto de Earl.

EGELHOFFER - Sr. Williams, sabe que vai ser executado. Quem acha que é o responsável?

EARL - Sou inocente. Não tive culpa.

SALA DE IMPRENSA. Hildy está saindo.

HILDY - Bem, Murph.

MURPHY - Mande um postal.

WILSON - Adeus, Johnson!

HILDY - Até Logo, Hildegarde.

HILDEGARDE - Quando a veremos?

HILDY - Quando me virem, estarei falando sobre sucesso. Adeus, escravos. Quando estiverem em escadas de incêndio, sendo chutados ou comendo a ceia de Natal em espeluncas lembrem-se de mim. E, quando a estrada se abre, e o trabalho...

Barulho de tiros. Todos correm para a janela, exceto Hildy.

REPÓRTERES - É uma fuga!
O que houve? O que aconteceu?
Olhe para onde atira!
Vigiem o portão!
Quem fugiu?

POLICIAL - Earl Williams!

Todos correm para os telefones e fazem ligações.

REPÓRTERES - Alô? Rápido, é importante.
- Redação! Williams fugiu.
- Houve uma fuga.
Ele sumiu!
Ainda não sei de nada!

Hildy está parada à porta. Todos correm para fora da sala. Hildy permanece e faz uma ligação.

HILDY - Walter. Rápido, é Hildy. É Hildy. Williams acaba de fugir da prisão. Não se preocupe, estou indo.

Hildy sai correndo da sala.


Ext. Noite. Ruas. Muitos carros da polícia passando, sirenes ligadas, muita confusão. Hildy corre atrás de Cooley.

HILDY - Cooley, espere! Espere! Espere um pouco! Quero falar com você.

SALA DE IMPRENSA. Telefone tocando. Wilson atende.

WILSON - Chame o copidesque.

REPÓRTER - Ele não está.

WILSON - A situação é a seguinte. Está pronto? Williams foi levado à sala do xerife para ser examinado e, em poucos minutos, escapou. Não sabem onde arrumou a arma. Ele subiu para a enfermaria e escapou pela clarabóia. Escorregou pela calha até a rua. Não sabem onde conseguiu. Ou não contam.

Pete e McCue entram.

MCCUE - Ofereceram US$ 10 mil... Murphy. Não sabem onde está. Houve um acidente com uma bomba de gás lacrimogêneo. Faz os criminosos chorarem. Eu não sei. Explodiu nas mãos do esquadrão.

HARTWELL - O quê?

WILSON - Foram levados para o hospital.

HARTWELL - Belo amigo!

WILSON - Os nomes são Wilkerson, cunhado do prefeito.

HARTWELL - Depois do que fiz por você!

WILSON - Schuster, tio do xerife...

MCCUE - Novidades sobre a perseguição.

WILSON - Mansfield, senhorio do xerife e Winthrop, marido da sobrinha dele.

MCCUE - Você se lembra. Até mais.

WILSON - Sra. Rice, 55 anos, faxineira, levou um tiro disparado por um dos assistentes.

HARTWELL - Ouça...

Barulho de tiros.

WILSON - Lá se vai outra faxineira!

Pete sai da sala.

MCCUE - McCue. Redação. Já sabem como ele fugiu? O xerife o soltou para votar nele. Um homem foi visto...

REPÓRTER - Até mais.

Hildy entra correndo quando os outros estão saindo da sala.

REPÓRTER - Pensei que tinha ido.

HILDY - Eu também.

Quando eles saem, ela fecha a porta e faz uma ligação.

HILDY - Walter Burns, rápido. Walter, escute. Tenho toda a história de como ele conseguiu a arma e fugiu.

Walter está em sua sala, com Vangie e Louis.

WALTER - É maravilhoso.

HILDY - Arranquei do Cooley por US$ 450.

WALTER - Qual é a história?

HILDY - Vou dizer, mas tive de dar o dinheiro. E não era meu. É do Bruce, e quero de volta!

WALTER - Do Bruce? Claro, vai receber. Qual é a história? Mando o dinheiro. Juro sobre o túmulo da mamãe.

HILDY - Está bem espere aí, sua mãe está viva.

WALTER - Da minha avó. E a história?

HILDY - Mande o dinheiro para cá.

WALTER - Está bem.

HILDY - É o seguinte: A fuga dos seus sonhos. Parece que o médico de NY fez um teste de sanidade na sala do xerife espetando alfinetes para testar os reflexos dele. Ele resolveu reencenar o crime como ocorreu para testar a coordenação dele. Vou chegar lá. Eles lhe deram uma arma para reencenar o crime. Quem lhe deu uma? Peter B. Hartwell. "B" de burro.

WALTER - Não brinca!

HILDY - Não seria capaz de inventar isso. O xerife deu a arma Earl atirou no professor, naquele lugar. Não, naquele. Não é perfeito? Se o xerife desenrolasse o tapete vermelho, não seria tão perfeito. Quem? Não, nada grave. Foi para o hospital e vai se recuperar.

WALTER - Muito bom. Esqueça o dinheiro. Vai recebê-lo em 15 minutos.

HILDY - É bom. Bruce está me esperando no táxi, e estamos com pressa.

WALTER - Um momento. (tapa o fone com uma mão) Vangie, venha cá. Há um cara em frente ao tribunal. Chama-se Bruce Baldwin.

VANGIE - Como ele é?

WALTER - Parece aquele ator, Bellamy.

VANGIE - Ele?

WALTER - Consegue?

VANGIE - Já desapontei você?

WALTER - Vá andando. Tem dois minutos. (Ao telefone) Desculpe. Quanto era mesmo? US$ 450? Um momento.

Wlater tapa o fone mais uma vez.

WALTER - Louie, preciso de US$ 450 em dinheiro falso.

LOUIS - Não pode andar com tanto.

WALTER - Só US$ 450. Onde consigo?

LOUIS - Eu tenho.

WALTER - Que coincidência. Leve até ela.

LOUIS SAI DA SALA.

WALTER - Louie vai levar. Obrigado pela matéria. Boa sorte na lua-de-mel!

HILDY - Esqueça os agradecimentos. Mande o dinheiro.

Hildy desliga. McCue entr na sala.

MCCUE - Ainda está aqui?

HILDY - Não, estou em Niagara Falls.

MsCue faz uma ligação.

MCCUE - É McCue. E mil, novidades sobre a caçada. Pronto? A Sra. DeWolfe deu à luz numa rádio patrulha e as enfermeiras foram o esquadrão do xerife Hartwell. Ela estava na rua quando... isso mesmo... Eles a colocaram na patrulha e ajudaram a cegonha. O bebê foi examinado para verem se era Williams. Sabiam que ele estava em algum lugar. E tem mais, o nome dele vai ser Peter Hartwell DeWolfe.

Outro telefone toca. Hildy atende.

HILDY - Sala da imprensa. Bruce, pensei que estivesse lá embaixo... O quê? Preso de novo? Por que desta vez?

DELEGACIA. Vemos Bruce, Vangie e alguns policiais.

BRUCE - Bem, eles chamam de "mão boba"... Eu não, Hildy! Eu estava no táxi em que me deixou. Uma moça teve uma tontura, e eu... Ela é meio...

Ela é loira, muito loira.

HILDY - Já sei o que houve. Um momento.

Hildy ligado outro telefone.

HILDY - Chame Walter Burns. (no outro fone) Onde você está? 27° distrito? Um momento. (no outro) Walter? Ele estava aí. Mas eu... "Não consegui localizá-lo." Traidor! Alô? Você não! Não posso ir agora. Que tal em 20 minutos? Preciso esperar o... Conto quando chegar. (desliga) Se eu puser as mãos no Walter.

McCue e outro entram.

MCCUE - Um instante. Posso ajudar?

HILDY - Tem dinheiro?

REPÓRTER - US$ 1,80.

REPÓRTER #2 - US$ 0,64.

HILDY - Valeu a intenção.

REPÓRTER (ao telefone) - O que é? Não tenho uma declaração oficial.

O prefeito entra.

Parte #3

REPÓRTER - Espere um pouco. O prefeito chegou. Que tal uma declaração?

PREFEITO - Não enche. Estou ocupado.

- Ele não vai dizer nada.

MCCUE - Viu o xerife?

PREFEITO - Não sei. Há tantas baratas aqui.

MCCUE - Espere. Que tal uma declaração? Vamos imprimir em 20 minutos.

PREFEITO - Não tenho nada a dizer agora.

REPÓRTER - Espere. O que sabe sobre a fuga? Como arrumou a arma?

PREFEITO - Esperem. Não tão rápido.

REPÓRTERES - Então fale sobre a eleição.
Que efeito terá nos eleitores?

PREFEITO - Nenhum. Como um infortúnio como esse poderia influenciar os cidadãos desta cidade?

REPÓRTERES - Por favor, existe uma ameaça comunista ou não?
Como Williams escapou da prisão?
Vai assumir ou vai arranjar um responsável?
É verdade que está na folha de pagamento de Stalin?
O senador diz que dorme de cueca vermelha.

PREFEITO - Sem piadas. Não se esqueça de que sou o prefeito.

Pete Hartwell entra.

PREFEITO - Estava procurando você.

REPÓRTERES - Como ele fugiu?
Como arrumou a arma?
Algo sobre o levante comunista?

PREFEITO - Que levante? - Não haverá nenhum levante. O governador diz que a situação requer a milícia.

REPÓRTER - Pode escrever que tudo o que o governador diz é mentira.

(Ao telefone) Jake, uma declaração do governador: "O prefeito e o xerife parecem duas crianças brincando com fogo". Pode escrever o seguinte: "Sorte da cidade a eleição ser na terça. Não será preciso cassar (Inez, cassar ou cacar com cedilha)??? o prefeito e o xerife." Ligo depois.

HARTWELL - Prazer, prefeito. Com licença.

REPÓRTERES - Quem planejou esta fuga?
- Foram os comunistas?
- Foi você?

HARTWELL - Eu? Não. Eu o localizei.

REPÓRTERES - Williams?
- Onde está?

HARTWELL - Na Center Street, onde morava. Recebi uma dica.

REPÓRTER - Por que não disse?

HARTWELL - O esquadrão está indo.

OS REPÓRTERES SAEM CORRENDO DA SALA.

HARTWELL E O PREFEITO ENTRANDO NA DELEGACIA.

HARTWELL - Ouça, por favor...

PREFEITO - Quero falar com você.

HARTWELL - Tenho tanto a fazer.

PREFEITO - Veja, Fred... Você já era.

HARTWELL - Como assim?

PREFEITO - Vou riscar seu nome e colocar Sherman no seu lugar. "Enforcar comunistas." Williams não é comunista! Há comunistas simpatizantes e com um slogan assim.

HARTWELL - Eu sei, mas não tem nada a ver com o caso.

PREFEITO - Sabe que se não for enforcado, perderemos 200 mil votos?

HARTWELL - Vamos enforcá-lo! Entre. Ele não pode escapar.

PREFEITO - Como? Ele escapou, não?

PETTIBONE entra e fecha a porta.

HARTWELL - O que quer?

PETTIBONE - Eu...

PREFEITO - O que é?

PETTIBONE - Xerife Hartwell?

HARTWELL - Sou. O que é?

PETTIBONE - É difícil achá-lo. É um recado do governador.

HARTWELL - O que é?

PETTIBONE - Comutação para Williams.

HARTWELL - Para quem?

PETTIBONE - Earl Williams.

HARTWELL - Disse que não haveria comutação.

PREFEITO - Nem imagina o que eu gostaria de fazer com você. Quem mais viu?

PETTIBONE - Ninguém. Ele estava pescando.

PREFEITO - Chame o governador.

PETTIBONE - Não está lá. Está caçando patos.

PREFEITO - Cretino! Pescando, caçando patos. Não fez nada em 40 anos e agora que é governador acha que é Tarzan.

HARTWELL - Leia isso: "louco". Ele sabe que Williams não é louco.

PETTIBONE - Não o conheço.

HARTWELL - Pura política!

PREFEITO - É para nos destruir. O que vamos dizer aos repórteres? O partido acabou aqui graças a você. Melhor, diga que quero que entregue o cargo.

O telefone toca.

HARTWELL - Alô? Sim, é Hartwell. O quê? Onde? Santo Deus! Um momento. Pegaram Williams. O esquadrão cercou a casa dele.

PREFEITO - Mande esperar.

HARTWELL - Já um momento.

PREFEITO - Tampe o bocal. Ouça. Você não trouxe isto.

PETTIBONE - Claro que trouxe. Entrei por...

PREFEITO - Quanto ganha por semana?

PETTIBONE - Pensei que era o xerife...

PREFEITO - Qual é o seu salário?

PETTIBONE - US$ 40.

PREFEITO - O que acha de US$ 350 por mês? Quase US$ 100 por semana.

PETTIBONE - Eu não poderia quem? Eu?

PREFEITO - Quem acha? Precisam de um cara como você.

PETTIBONE - Onde?

PREFEITO - Na aferição.

PETTIBONE - Você quer dizer que eu... Minha esposa não ia querer. Ela mora no campo com minha família...

PREFEITO - Traga-a. Pagamos as despesas.

PETTIBONE - Acho que não.

PREFEITO - Por que não?

PETTIBONE - Tenho dois filhos na escola. Eles perderiam o ano...

PREFEITO - Não, vão pular de ano. Garanto que vão ser formar. O que me diz?

PETTIBONE - Estou numa sinuca.

PREFEITO - Não. Lembre-se, não trouxe isto. Não, ficou preso no trânsito.

PETTIBONE - Eu trouxe.

PREFEITO - Finja que não. Agora dê o fora e não deixe que o vejam.

PETTIBONE - Como vou saber...?

PREFEITO - Vá ao meu escritório amanhã. Seu nome?

PETTIBONE - Pettibone.

PREFEITO - Pettibone?

HARTWELL - Não pode ser!

PREFEITO - Seja discreto e não abra a boca.

PETTIBONE - Estou cansado mesmo.

PREFEITO - Vá a este endereço. Um lugar aconchegante. Vão cuidar de você. Diga que eu o mandei. US$ 50 por conta.

HARTWELL - Quer esperar? Já vou dizer.

PETTIBONE - Esqueceu de dizer o que é.

PREFEITO - Explico amanhã.

PETTIBONE - É difícil?

PREFEITO - Não, muito fácil.

PETTIBONE - Minha saúde... minha esposa...

PREFEITO - Daremos um jeito nisso.

PETTIBONE - Na minha esposa?

PREFEITO - Qualquer coisa. Vá.

PETTIBONE sai da sala.

HARTWELL - Ainda estão ao telefone.

PREFEITO - Diga que atirem para matar. Ouviu o que eu disse.

HARTWELL - Mas a comutação

PREFEITO - Faça o que eu disse.

HARTWELL - (ao telefone) Atire para matar. São ordens. Recompensa de US$ 500.

SALA DE IMPRENSA. HILDY ESTÁ SOZINHA, ESPERANDO LOUIE.

LOUIE - Oi, Hildy.

HILDY - Traidor, eu...

LOUIE - O que foi?

HILDY - O que fez com o Sr. Baldwin agora?

LOUIE - Eu?

HILDY - Você e a albina.

LOUIE - Evangeline? Não é albina. Nasceu neste país.

HILDY - Se tentar algo, vai ficar aqui. E você também. Trouxe o dinheiro?

LOUIE - US$ 400.

HILDY - US$ 450.

LOUIE - Não pode me culpar por tentar. Quero recibo.

HILDY - Dou uma cicatriz.

LOUIE - Já tenho muitas.

HILDY - E quero a carteira dele também.

LOUIE - O quê?

HILDY - A carteira. Vamos, Louie.

LOUIE - Está bem. Vou fazer isso porque gosto de você. Mas diga a ele para tomar mais cuidado. Vai emprestar um soco-inglês?

HILDY - Não fale assim. Dê isso.

LOUIE - Levo você à estação. Espere aí!

HILDY - Vai me levar ao 27° distrito e contar à polícia o que aconteceu.

LOUIE - Burns me manda para Alcatraz!

HILDY - Não é má idéia.

LOUIE - Aqui. Pegue.

HILDY - Louie!

LOUIE corre. Hildy vai até o telefone.

HILDY - Alô, telefonista? Pode chamar...

EARL ENTRA PELA JANELA, APONTANDO UMA ARMA PARA HILDY.

EARL - Largue esse telefone.

HILDY - Esqueça.

EARL - Não vai contar a ninguém onde estou.

HILDY - Largue a arma. Não vai atirar. Sou sua amiga. Preciso escrever a matéria.

EARL - Certo. Produção útil.

HILDY - Não vai ferir uma amiga.

EARL - Pare! Talvez seja, talvez não. Mas não se aproxime. Não se pode confiar em ninguém.

HILDY - Não o culpo. Se fosse você, também não confiaria.

EARL - Não faça isso! Desligue! Se tentar algo, eu atiro. Atiro daqui.

HILDY - Claro, mas não vai fazer isso. Não quer matar ninguém.

EARL - Tem razão. Não quero.

HILDY - Foi o que pensei.

EARL - Espere. Aonde vai?

HILDY - Fechar a porta para não ser visto.

EARL - Não, ia chamar alguém... mas eu não quero. Só quero ficar em paz.

HILDY - Não vou chamar.

EARL - Vai! Não deixarei que faça isso!

HILDY - Me dê isso!

Hildy o desarma.

EARL - Acho que usei todas as balas. Estou cansado.

HILDY - Atire e saberão que está aqui.

EARL - Não me importo. Não tenho medo de morrer. Eu dizia isso quando ele me deu a arma.

HILDY - Quieto!

EARL - Acordaram-me dizendo coisas que não entendem.

HILDY - Cale-se.

EARL - Queria que me enforcassem.

HILDY - Vão enforcar se não se calar.

EARL - Não aguento outro dia assim.

HILDY - E eu aguento? (Ao telefone) Walter Burns, rápido. Diga que preciso dele. (no outro fone) Alô? Bruce, disse que estaria aí, mas algo incrível aconteceu. Venha para cá. Um momento. Já explico. Earl Williams está aqui na sala de imprensa. Venha logo. Capturei Earl Williams, o assassino.

Batem à porta insistentemente.

HILDY - Fique aí. Um momento! Eu estarei ai logo. Irei assim que entregá-lo. Não posso. Não entende.

MALLOY - Abra a porta!

HILDY - Que é?

MALLOY - Mollie Malloy. Abra a porta!

HILDY - O que quer?

MALLOY - Preciso achar... Onde estão todos?

HILDY - Foram embora.

MALLOY - Diga aonde eles foram.

HILDY - Não sei. Pode ir embora?

MALLOY - Eles o cercaram. Vão matá-lo.

HILDY - Estão atrás de você também.

MALLOY - Não me importo! Precisa me dizer. Acho que...

HILDY - Vou dizer. Estão na Center Street com a 4ª.

MALLOY - É onde ele...

EARL - Mollie, não vá.

HILDY - Entre. Puxe uma cadeira.

EARL - Oi, Mollie.

MALLOY - Como entrou aqui?

EARL - Pela calha. Não queria atirar nele. Mesmo.

HILDY - Fique quieto.

EARL - Acredita em mim, não?

MALLOY - Claro.

EARL - Obrigado pelas rosas. Lindas.

MALLOY - De nada, Sr. Williams.

EARL - Não chore.

HILDY - Não fique histérica.

MALLOY - Vou tirá-lo daqui.

HILDY - Ficou louca? Seria vista.

MALLOY - Vão pegá-lo.

HILDY - Eu sei. Estou tentando pensar em algo.

EARL - Que me levem. Que diferença faz?

MALLOY - Não vou deixar.

WILSON e ENDICOTT batem à porta.

ENDICOTT - Quem trancou a porta?

EARL - Tarde demais.

HILDY - Não, entre na escrivaninha.

EARL - Para quê?

HILDY - Entre! Tiraremos você daí em 10 minutos. (A Malloy) Controle-se. Sente-se aqui. Tudo bem, já vou! (abre a porta) Querem derrubar o prédio?

WILLIAMS - Temos de fazer umas ligações.

WILSON - O que ela faz aqui?

HILDY - Tragam sais. Chegou histérica. Está mal.

ENDICOTT - Como se sente?

MALLOY - Não muito bem.

ENDICOTT - Tome água.

WILSON - Não me parece doente. Encontrou Williams?

MALLOY - Engraçadinhos!

WILSON - Onde ele está?

MALLOY - Deixem-me!

WILSON ao telefone.

WILSON - Tudo bem. Redação. Jim, alarme falso. Cercaram a casa mas esqueceram de avisar Williams, e ele não estava lá.

MURPHY entra.

MURPHY - Não tinha ido, Hildy?

HILDY - Quero meu dinheiro.

Que caçada. Chame Emil.

MCCUE entra.

MCCUE - Murphy. Redação.

SCHWARTZ entra.

HILDY - Alguma novidade, rapazes?

SCHWARTZ - Nunca me senti tão cansado.

MCCUE - Onde? Melrose Station? Pode me ligar. Oi, Mollie. Pessoal, essa é boa. Uma senhora disse que Williams está escondido na varanda. Não querem ir lá?

ENDICOTT - Preciso ficar. Eu acompanho. Já gastei US$ 1,40 de táxi.

SCHWARTZ - Não vamos sair mais. Esqueça, sargento. Quem fechou as cortinas?

HILDY - Eu. Por causa das luzes.

MURPHY - Acho que Williams não está onde procuram. Deve estar aqui no prédio.

HILDY - Claro. Esperando um tiro.

MURPHY - Saiu pela clarabóia, mas como chegou ao chão?

SCHWARTZ - Acho que não tem jeito.

MURPHY - Pode ter pulado. É só 1,20 m. Era só escorregar pela calha. E entrar em qualquer janela.

HILDY - Gênios trabalhando. Vão para casa. Talvez Williams telefone. E se ele estivesse no prédio? Cada um procura num andar!

MCCUE - Não vou ficar andando pelo prédio!

HILDY - Que repórteres! A história do momento, e ficam com preguiça.

MURPHY - Parece ansiosa para se livrar de nós. Quer dar um furo?

HILDY - Ficou maluco? Logo agora?

ENDICOTT - Mollie deve ter contado tudo. Deu a arma para ele, Mollie?

MALLOY - Não fiz nada.

MCCUE - Seja franca.

HILDY - Querem deixá-la em paz? Ela está doente.

SRA. BALDWIN entra.

HILDY - Sra. Baldwin mãe!

SRA. BALDWIN - Pare! Brincando de gato e rato com Bruce. Deixando-o preso! Perdemos dois trens, e deveriam se casar amanhã.

HILDY - Vou com você.

SRA. BALDWIN - Não precisa ir comigo. Dê-me o dinheiro dele e pode ficar aqui. Você e o assassino que pegou.

MURPHY - Que assassino?

HILDY - Qual é? Todos parecem assassinos.

SCHWARTZ - Que assassino você pegou?

HILDY - Não sei do que ela está falando.

SRA. BALDWIN - Meu filho me disse, e ele não mente!

HILDY - Eu não disse isso!

SRA. BALDWIN - Disse!

HILDY - Não, disse que estava tentando achar o assassino. Não vêem que entenderam mal?

MURPHY - Quem está escondendo?

SRA. BALDWIN - Ninguém! Solte-me!

MALLOY - Parem! Por que perguntam a ela? Ela não sabe onde ele está.

REPÓRTERES - Onde está Williams?

MALLOY - Tente descobrir.

ENDICOTT - Fale, Mollie.

MALLOY - Agora querem que eu fale.

REPÓRTER - Fale!

MALLOY - Engraçado! Antes não me ouviam. Agora querem que eu fale.

HILDY - Não diga nada a eles!

MALLOY - Deixe-me. Sei o que faço.

ENDICOTT - Fique fora disso.

MALLOY - Por que não me ouviram?

HILDY - Pare com isso.

MALLOY - Tire as mãos de mim!

ENDICOTT - Onde ele está?

MALLOY - Querem escrever mais mentiras e vender mais jornais?

MALLOY - Está bem, é o seguinte: vou lhes dar uma ótima história. Só que será verdade. Nunca descobrirão!

Malloy pula pela janela. Todos correm a olhar pela janela.

REPÓRTER - Chamem uma ambulância! Chamem uma ambulância!

Ao observá-la caída lá embaixo, com os policiais a cercando, comentam.

REPÓRTERES - Está morta.
- Não, está se mexendo!
- Você viu? Ela pulou.

Todos, exceto Hildy, saem de cena a fim de verificar o que aconteceu. Em seguida, Walter chega.

WALTER - Onde ele está? Onde pôs Williams?

HILDY - Está na escrivaninha. Graças a Deus, ela não morreu!

WALTER - Como está?

EARL - Deixe-me sair.

WALTER - Fique quieto.

SRA. BALDWIN entra.

SRA. BALDWIN - O que tem aí?

WALTER - (A Baldwin) Quem é você? (a Hildy) Quem é ela?

HILDY - A mãe de Bruce.

SRA. BALDWIN - O que está fazendo?

WALTER - Cale-se!

BALDWIN - Não. Está fazendo algo errado!

HILDY - Por favor!

WALTER - Tire-a daqui! Cale-se!

LOUIE entra em cena.

WALTER - Leve-a para o Mike.

LOUIE - Oi, sou Louie Peluso.

LOUIE coloca Sra. baldwin em suas costas e a leva para fora, enquanto ela grita e esperneia.

WALTER - Que ela não fale com ninguém.

HILDY - O que digo a ele?

WALTER - Que é um caso extremo!

HILDY - Não se preocupe, é temporário!

SRA. BALDWIN - Solte-me.

WALTER fecha a porta e evita que Hildy saia.

WALTER - Aonde pensa que vai?

HILDY - Atrás dela. Vou tirar Bruce da cadeia. Por que fez isso comigo?

WALTER - Tirar Bruce da cadeia? Como pode se preocupar com ele numa hora dessas? É uma guerra. Não me abandone.

HILDY - Sua matéria está ali. Publique na 1 ª página: "Williams Capturado pelo 'Post'!" Entrei numa confusão, agora vou embora.

WALTER - Sua idiota, pode se casar qualquer dia.

HILDY - Foi o que eu disse!

WALTER - Quantas vezes capturou um assassino? Uma vez na vida! Você superou todo mundo.

HILDY - Eu sei.

WALTER - Sabe! Você não pensa? Isto não é apenas uma matéria, é uma revolução! É o maior furo desde que Livingstone achou Stanley.

HILDY - É o contrário.

WALTER - Não seja técnica agora. Sabe o que fez? Pegou uma cidade liderada por uma gangue e os pôs pra fora. Podemos ter um governo como o de NY. Ouça, querida, acha que eu perderia tempo discutindo? Você fez algo grande! Passou para outra categoria. Na terça, ninguém vai votar neles, nem mesmo as esposas!

HILDY - Entregá-los?

WALTER - Vamos crucificá-los! Williams ficará escondido até o "Post" dar o furo. Diremos que o governador participou.

HILDY - Estou entendendo!

WALTER - Derrubou-os como uma maçã. Pôs o prefeito e Hartwell na parede. Não é só uma matéria, é uma carreira! E você fica aí pensando em que trem vai pegar!

HILDY - Não encarei deste modo.

WALTER - Porque só é bonita. Terá uma rua com seu nome. Terá uma estátua no parque... cinema, rádio... Aposto que haverá um charuto Hildy Johnson. Posso ver a propaganda: "Acenda um"...

HILDY - Pare! Temos o que fazer.

WALTER - Gostei!

HILDY - O que faremos?

WALTER - Vamos levá-lo. Telefone?

HILDY - O da ponta. Como vamos tirá-lo dali?

WALTER - Levaremos a escrivaninha.

HILDY - Não pode. Há tiras lá fora!

WALTER - Vamos descê-la pela janela. Pegue a máquina e datilografe.

Hildy coloca a máquina na outra mesa e começa a datilografar.

HLDY - Quantos toques?

WALTER - Quantos quiser. Chame Duffy!

HILDY - Chamo o prefeito de corrupto?

WALTER - Como quiser. (Ao telefone) Duffy, prepare-se. Temos a melhor história da década! "Williams Capturado pelo 'Post. Exclusivo!" Quero que mude a 1 ª página. Foi o que eu disse. É mais importante que a guerra. Hildy está escrevendo. Chame Butch e peça que traga seis lutadores. Butch. Quê? Quero transportar...

Bruce entra em cena. Hildy continua a escrever.

WALTER - O que quer?

HILDY - Oi, Bruce.

BRUCE - Hildy.

WALTER - (ao telefone) Esqueça o terremoto chinês!

BRUCE - Só quero fazer uma pergunta.

HILDY - Como saiu da prisão?

BRUCE - Não foi com sua ajuda. (A Walter) Não estou falando com você. (a Hildy) Tive de telegrafar para Albany para pagar a fiança! O que vão pensar? Uma delegacia!

WALTER - Hildy, estamos esperando a matéria!

HILDY - Vamos explicar a eles.

BRUCE - Mamãe disse que vinha para cá.

HILDY - Foi embora.

WALTER - (ao telefone) Eu não consigo te ouvir.

BRUCE - Onde ela foi?

HILDY - Saiu.

WALTER - Dane-se o corredor polonês!

BRUCE - Diga, aonde ela foi?

HILDY - Ela não disse.

WALTER - Isso é mais importante.

BRUCE - Pegou o dinheiro?

HILDY - Não, saiu correndo.

BRUCE - Vou pegar o dinheiro.

HILDY - Na bolsa.

BRUCE - Vou cuidar de tudo. Quero o cheque.

HILDY - Eu te dou. As passagens. O dinheiro está na sua carteira.

BRUCE - É a minha carteira! Há algo errado aqui. O que está fazendo?

WALTER pega o dinheiro e o observa. Bruce pega o dinheiro de volta.

WALTER - Só queria ver.

BRUCE - Vou pegar o trem das 21 horas.

HILDY - Claro.

BRUCE - Ouviu o que eu disse? Vou pegar o trem das 21 h.

HILDY - Bruce, escrevi isso aqui!

WALTER - Deixe-a em paz!

BRUCE - Só responda uma coisa: não quer ir comigo? Não quer, não é?

WALTER - (ao telefone) Tire as misses da página 6.

BRUCE - Por favor, diga a verdade.

WALTER - Espere aí! Olhe aqui, meu bom homem...

BRUCE - Cale-se, Burns! Você está fazendo isso com ela. Ela queria fugir de tudo mas você a fez mudar de idéia.

WALTER - Coloque Hitler nas piadas!

BRUCE - Vai desistir de tudo por ele?

HILDY - Não, mas não entende? Vou contar tudo.

WALTER - Não conte nada! É um espião!

BRUCE - Não sou! Você vem comigo agora.

HILDY - Espere. Não vê como isso é importante?

BRUCE - Entendo. Você me colocou na geladeira, certo? Você não me ama, é isso.

HILDY - Não é verdade. Você não ouve. Não vê que não é isso?

BRUCE - Nunca quis ser humana!

WALTER - Está bem! Santo Deus, estou tentando me concentrar!

Parte #4

BRUCE - Você é como o resto.

HILDY - Claro que sou.

WALTER - O quê? Não, deixe a história do galo. Tem interesse humano.

HILDY - Só quero saber uma coisa. Nome da primeira esposa do prefeito.

WALTER - A da verruga? Fanny.

BRUCE - Acho que você nunca me amou.

HILDY - Você não trabalha com publicidade.

BRUCE - Se mudar de idéia. Parto no trem das 21 h.

HILDY - Não tente me mudar. Sou um "homem da imprensa".

Bruce pega suas coisas e sai, fechando a porta.

WALTER - Seja o mais rápida possível.

Earl tenta sair da escrivaninha.

WALTER - Entre aí, sua tartaruga! (ao telefone) Duffy, mandou Butch vir de táxi? É caso de vida ou morte. Ótimo. Só temos de esperar 15 minutos.

HILDY - Os rapazes voltarão para ligar.

WALTER - Eu cuido deles. O que já escreveu?

HILDY - "Enquanto atiradores do xerife Hartwell acertavam inocentes espalhando terror, Williams..."

WALTER - Espere aí! Não vai mencionar o "Post"?

HILDY - Mencionei. No 2° parágrafo.

WALTER - Quem vai ler? Há 10 anos digo como se escreve, e é isso que recebo?

HILDY - Sinto muito.

Walter abre a escrivaninha e deixa entrar um pouco de ar.

EARL - A lua apareceu!

WALTER - Ótimo. Três batidas, sou eu. Tem ar aí?

EARL - Não muito.

Walter joga mais ar p/ dentro.

WALTER - Melhorou? Está ótimo.

Batidas apressadas na porta.

BENSINGER - Quem trancou a porta?

WALTER - Quem é?

HILDY - Bensinger. Dono da escrivaninha.

BENSINGER - Abra a porta!

WALTER - Como é o nome dele?

HILDY - Bensinger, do "Tribune".

WALTER - Do "Tribune"?

BENSINGER - Quem está aí?

Walter abre. Bensinger entra.

BENSINGER - Olá, Sr. Burns.

WALTER - É uma honra tê-lo aqui.

HILDY - Olá, Bensinger.

BENSINGER - Você me conhece? Desculpe, só queria...

WALTER - É coincidência vê-lo hoje, não?

BENSINGER - Como assim?

WALTER - Falei sobre você esta tarde.

BENSINGER - É mesmo? Nada de mal, espero.

WALTER - Ao contrário! Ótima a matéria do seu jornal.

BENSINGER - Gostou do poema?

WALTER - O poema? Era ótimo.

BENSINGER - Gostei do final. "E tudo está bem, fora da cela mas ele ouve o carrasco chamar... O som da forca... E as lágrimas da sua mãe"

WALTER - É de cortar o coração. Quer trabalhar comigo? Precisamos de alguém como você. Só temos ignorantes como ela.

BENSINGER - Fala sério?

WALTER - Espere um pouco. (ao telefone) Duffy, vou mandar o Sr. Bunsinger vê-lo.

BENSINGER - Bensinger.

WALTER - Mervyn, não é?

BENSINGER - Não, Roy V.

WALTER - Claro. Roy V., o poeta. (ao telefone) Claro que não conhece. Nem conhece Shakespeare! Quero que o contrate. (A Ben) Quanto ganha no "Tribune"?

BENSINGER - US$ 75.

WALTER - Pago US$ 100. Dê o que ele quiser, certo? Quero que escreva uma matéria do ponto de vista do fugitivo. Ele se esconde, com medo dos sons, das luzes. Ele ouve passos, o coração dispara. Um animal acuado.

BENSINGER - Estilo Jack London? Vou pegar o dicionário de rimas.

WALTER - Não precisa rimar.

BENSINGER - Fico muito grato. É muito... Se tiver vaga para correspondente de guerra, falo francês.

WALTER - Vou me lembrar. (colocando-o para fora da sala).

BENSINGER - Bonjour.

Fecha a porta.

WALTER - "E as lágrimas da mãe". É o máximo! (ao telefone) Bensinger vai procurá-lo. Mande-o escrever poesias. Não, não o queremos. Enrole-o até a edição extra. Depois, mande-o embora!

HILDY - Seu traidor!

WALTER - É uma lição. Não vai deixar o jornal sem avisar.

HILDY - Você! Trai todo mundo. Espere. Eu me lembrei. Bruce não volta. Vai pegar o trem das 21 h.

WALTER - Então já partiu. Não fique aí parada. Continue. Tem de estar tudo pronto quando Butch chegar.

HILDY - Estragou minha vida! O que vou fazer?

Walter nem presta atenção, está medindo a janela.

WALTER - A janela é pequena. Teremos de carregá-la.

HILDY - Que idiota! Vão dar meu nome a ruas...

WALTER - Já descansou. Ao trabalho.

HILDY - Não vou...

Batem à porta.

WALTER - Quem é?

LOUIE - Sou eu, Louie.

Walter abre a porta. Louie entra, todo desalinhado.

WALTER - Louie! O que aconteceu com você?

HILDY - E a Sra. Baldwin?

LOUIE - O que aconteceu? Estávamos na Western, a mais de 100 km...

WALTER - Desembucha!

LOUIE - Estou contando! Batemos num carro da polícia.

HILDY - Ela se machucou?

LOUIE - Um carro cheio de tiras. Eles saíram aos montes.

HILDY - O que fez com ela?

LOUIE - Quando me vi estava na 34.

HILDY - Estava com ela, não? Num táxi.

LOUIE - O chofer desmaiou.

WALTER - Dou-lhe uma senhora e a entrega aos tiras!

LOUIE - Como assim? Os tiras estavam na contramão!

WALTER - Ela deve estar dando escândalo na delegacia.

LOUIE - Não muito, entendem?

HILDY - Não me diga. Ela morreu?

LOUIE - Eu, com uma arma e uma velha seqüestrada não ia ficar fazendo perguntas a tiras.

HILDY - Morta! Isso é o fim!

WALTER - É o destino. O que tiver de ser, será.

HILDY - O que vou dizer a ele? O que vou contar?

WALTER - Se ele a ama mesmo, não terá de dizer nada. Preferia que a velha trouxesse a polícia para cá?

HILDY - Eu a matei. Sou responsável. Como vou encarar Bruce de novo?

WALTER - Olhe para mim.

HILDY - Estou olhando, assassino!

WALTER - Se fosse minha avó, eu continuaria pelo jornal!

HILDY - Louie, onde aconteceu?

LOUIE - Western com 34.

HILDY - Preciso ir...

WALTER - Podemos fazer mais aqui! Calma. Ouça... (Telefone toca. Walter atende) Alô?

Hildy pega o outro fone.

HILDY - Maine, 4557.

WALTER - Quem? Butch, onde está?

HILDY - Hospital Mission? Recepção.

WALTER - Você nem começou?

HILDY Chegou uma senhora aí? Mas é caso de vida ou morte! Ninguém?

WALTER - Não estou ouvindo.

HILDY - Morningside 2469.

WALTER - Quem? Fale alto. O quê? Não pode ir namorar agora! Não importa que esteja atrás dela há 6 anos. Corremos perigo! Vai deixar uma mulher se meter entre nós?

HILDY - Alguma senhora deu entrada aí?

WALTER - Eu poria meu braço no fogo por você. Não pode me trair!

HILDY - Pode olhar? Está bem. Eu falo com ela. Boa Noite.

WALTER - Escute.. não pode impedi-lo de cumprir o dever! O quê? Repita isso, e eu vou até aí quebrar seus dentes! Ouça...

HILDY - Ela desligou.

WALTER - O que eu disse? Duffy por aí com uma...

HILDY - Cale-se! Estou tentando ouvir!

WALTER - Quanta colaboração. Duffy! Onde ele está? Diabetes. Não devia ter contratado um doente!

Louie entra.

WALTER - É com você.

LOUIE - O que quiser.

WALTER - Saia. Chame uns caras. Qualquer um. Ofereça o que quiser. Temos de levar a escrivaninha.

LOUIE - É importante?

WALTER - Você é meu melhor amigo.

LOUIE - Também gosto de você.

WALTER - Não falhe. Confio em você.

LOUIE - Você me conhece, chefe.

WALTER - Não bata em nada.

Louie sai. Walter fecha a porta.

WALTER - Esse imigrante vai me ferrar, vai ver.

HILDY - Tente de novo.

WALTER - Se demorar, nós carregamos.

HILDY - Faça o que quiser.

WALTER - Há várias maneiras. Podemos iniciar um incêndio.

HILDY - Estou pouco ligando.

WALTER - Veja se conseguimos levantar.

Hildy continua ao telefone.

HILDY - O quê? Ninguém? Tudo bem.

WALTER - Vai me ajudar?

Hildy desliga o fone, pega sua bolsa e abre a porta.

HILDY - Não!

WALTER - Quer que destrua minha coluna?

HILDY - Vou achar a Sra. Baldwin.

WALTER - Não abra a porta!

HILDY - Vou até o necrotério...

Os repórteres e Hartwell aparecem. Eles a impedem de sair.

REPÓRTERES - Queremos falar com você!

HILDY - Soltem-me! O que é isso? Tirem as mãos de mim!

HARTWELL - Olhe aqui...

WALTER - Ei, você!

HARTWELL - Eu?

WALTER - O que pretende invadindo assim?

HARTWELL - Não me interessa quem é, nem de que jornal é editor.

HILDY - Soltem-me! Por favor, aconteceu algo com minha sogra!

REPÓRTER - Vai atrás de Williams. Trancou a porta.

HILDY - Não sei. Houve um acidente.

HARTWELL - Está acontecendo algo muito estranho aqui.

WALTER - Um momento, Hartwell. Se tem alguma acusação a fazer, faça direito... ou pedirei que se retire.

HARTWELL - Vai me pedir o quê?

WALTER - Retire-se!

HARTWELL - Tranque a porta e não deixe ninguém entrar ou sair. Veremos! Mostre para ele.

REPÓRTER - Faça-os falar.

HARTWELL - Vou chegar ao fundo disto. Vai falar ou não?

HILDY - O que quer que eu diga?

HARTWELL - O que sabe sobre Williams? Levem-na daqui.

HILDY - Não ousem me tocar.

Quando a pressionam, a arma cai.

HARTWELL - Ela está armada! Peguem!

Hildy pega a arma do chão e a joga para Walter.

HILDY - Não! Walter!

Walter pega a arma, mas Hartwell a pega.

HARTWELL - Eu fico com a arma. Onde arrumou isto?

HILDY - Posso ter uma arma.

HARTWELL - Não esta.

WALTER - Posso explicar. Como ia entrevistar Williams, dei a arma para ela se defender.

HARTWELL - Deu? Muito interessante. Mas foi a arma que ele usou!

REPÓRTERES - O quê?

WALTER - Acha que estou mentindo?

HARTWELL - Conheço minha arma.

REPÓRTERES - Foi assim que Williams a conseguiu!

HARTWELL - Ela a conseguiu com Williams. Onde ele está?

REPÓRTERES - Onde ele está?

HILDY - Está perdendo tempo.

HARTWELL - Vou lhe dar 3 minutos!

HILDY - Ele foi ao hospital falar com o médico levando marshmallows.

HARTWELL - O que sabe sobre isso?

WALTER - Meu caro, o "Post" não obstrui a justiça nem esconde criminosos.

HILDY - Devia saber disso.

HARTWELL - Você está presa. (a Walter) Você também.

WALTER - Quem está preso? Seu espiãozinho insignificante, sabe o que está fazendo?

HARTWELL - Você e o "Post" estão obstruindo a justiça. Receberá multa de US$ 10 mil.

WALTER - Não verá a cor disso.

HARTWELL - E vou confiscar os bens do "Post". A escrivaninha é sua?

HILDY - Não!

WALTER - Do que tem medo? Eu o desafio a tirá-la daqui! Tente.

HARTWELL - Vou mesmo.

WALTER - Se tirá-la daqui, eu o ponho atrás das grades!

HILDY - Ele pode!

WALTER - Até Roosevelt ficará sabendo.

HARTWELL - Vamos lá, pessoal! Peguem esta escrivaninha.

WALTER - Última chance. Será crime federal. Vocês serão cúmplices.

REPÓRTERES - Vamos arriscar.

Os repórteres se preparam para pegar a escrivaninha, mas param ao ouvir batidas na porta. Entram dois policiais acompanhando a Sra. Baldwin.

HILDY - Mãe, você está bem?

SRA. BALDWIN - Foi aquele homem ali!

WALTER - O que está havendo?

POLICIAL #1- Ela diz que foi sequestrada.

SRA. BALDWIN - Eles me arrastaram...

WALTER - Um momento!

HARTWELL - Ele tem algo a ver com isso?

SRA. BALDWIN - É o responsável. Mandou me sequestrarem.

WALTER - Desculpe, refere-se a mim?

SRA. BALDWIN - Sabe que foi você!

HARTWELL - E essa? Sequestro?

WALTER - Tentando me incriminar? Nunca vi essa mulher!

SRA. BALDWIN - Não acredito! Eu estava aqui quando a moça pulou da janela!

HARTWELL - Chamem o prefeito!

WALTER - Seja honesta. Se encheu a cara e se meteu em apuros, por que não admite em vez de acusar inocentes?

SRA. BALDWIN - Como ousa falar assim comigo?

HILDY - Ele é meio louco.

SRA. BALDWIN - E tem mais sei porque ele o fez. Estava escondendo um assassino aqui!

TODOS - Escondendo? Aqui!

WALTER - É uma mentirosa e sabe disso!

Walter bate 3 vezes na escrivaninha. Earl também bate 3 vezes. Todos se surpreendem.

REPÓRTERES - O quê? Ele está aí!

HARTWELL - Me dê a escrivaninha!

Os repórteres correm a fazer ligações.

Hartwell saca sua arma e mira na escrivaninha.

HARTWELL - Afastem-se! Ele pode atirar! Peguem as armas.

HILDY - Ele não é perigoso.

HARTWELL - Não arrisquem.

HILDY - Ele não vai machucar ninguém. Estão com a arma dele.

SRA. BALDWIN - Tirem-me daqui.

WALTER - Sua velhota!

HILDY - Mãe! O que houve?

Sra. Baldwin sai da sala em desespero. Lá fora Louie a encontra.

WALTER - Hildy, Chame Duffy!

HARTWELL - Todos, apontem para o meio.

HILDY - É homicídio.

HARTWELL - Carl, Frank, um de cada lado. - É agora! Está cercado. Vou contar até 3.

REPÓRTER (ao telefone) - É quente! Um.

HARTWELL - Prontos para uma emergência!

REPÓRTER - Está quase. Dois.

HARTWELL - Três. Abram! Pegamos você.

Abrem a escrivaninha. Earl está deitado, cansado.

EARL - Podem atirar.

HARTWELL - Saia!

REPÓRTER (ao telefone) - Williams foi capturado. Estava escondido no prédio.

HARTWEL - De pé. Cuidado. Não faça nenhuma gracinha.

Earl sai da escrivaninha e os policiais o guiam para fora da sala.

REPÓRTER (ao telefone) Estava inconsciente. Lutou, mas a polícia o dominou.

OUTRO REPÓRTER - Não ofereceu resistência.

OUTRO REPÓRTER - Quis atirar, mas a arma falhou.

WALTER - Duffy, o "Post" entregou Williams ao xerife!

HARTWELL (ao policial) - Algemem essas pessoas.

O policial algema Hildy a Walter. Todos saem da sala, exceto um policial, Hartwell, Hildy e Walter. O prefeito entra.

PREFEITO - Chame o diretor, rápido. (A Walter) Vai desejar não ter nascido.

WALTER - Vou?

PREFEITO - Bom trabalho. Estou orgulhoso. Você entregou as mercadorias? (a Walter) Quem diria! Ajudando um fugitivo. E uma acusação de sequestro. O quê? É a cadeia. 10 anos para cada um.

WALTER - Está na hora de sair da cidade.

PREFEITO - Isso não vai ajudá-los. Estão ferrados.

HILDY - O último homem que me disse isso cortou a garganta.

PREFEITO - É mesmo?

WALTER - Já estivemos em apuros piores. Esqueceu do poder que sempre cuida do "Post".

PREFEITO - Não está com você agora.

WALTER - Diga, Hildy.

HARTWELL (ao telefone) Aqui é Hartwell. Eu o peguei. Sozinho. Daremos andamento ao enforcamento.

WALTER - Ficará no cargo mais dois dias.

HILDY - E vai meter o nariz.

PREFEITO - Vou dizer o que farão. Vão fazer vassouras na prisão.

HARTWELL - Joe, é Hartwell. Venha logo. Quero que colha o depoimento dos criminosos.

WALTER - Chame Liebowitz.

HARTWELL - Advogados não vão ajudar.

WALTER - Está falando com o "Post". O poder da imprensa! Homens mais importantes que você o conhecem: presidentes, reis...

PETTIBONE entra na sala.

PETIBONE - Aqui está a comutação.

PREFEITO - Vá embora!

PETTIBONE - Não pode me subornar.

HARTWELL - Saia daqui!

PETTIBONE - Não, aqui está a comutação!

WALTER - O que?

Walter pega e lê a comutação.

PREFEITO - Tire-o daqui.

HILDY - Espere aí. Quem quis suborná-lo?

PETTIBONE - Não quiseram aceitar isso.

PREFEITO - Louco!

WALTER - Não disse? Um poder invisível!

PREFEITO - Como ousa inventar isso?

HILDY - Tentar enforcar um inocente para ganhar a eleição? É homicídio.

PREFEITO - Nunca o vi antes.

PETTIBONE - Se eu contar à minha esposa...

HILDY - Como se chama?

PETTIBONE - John Pettibone.

HILDY - Quando veio entregar isto? Com quem falou?

PETTIBONE - Tentaram me subornar.

HILDY - Quem?

PETTIBONE - Aqueles. Eles.

PREFEITO - Absurdo! Ele fala como uma criança.

WALTER - Da boca de um bebê.

PREFEITO - Ele é louco ou bêbado. Se o enforcamento foi suspenso, fico muito satisfeito, não é, Pete?

HILDY - Enforcaria a mãe para se reeleger.

PREFEITO - É uma coisa horrível de se dizer, Srta Johnson.

WALTER - Você é ótimo! Você é inteligente.

WALTER - Vamos ouvir a sua história.

PETTIBONE - Há 19 anos me casei com...

WALTER - Pule essa parte.

PETTIBONE - Ela não era Sra. Pettibone...

PREFEITO (olhando o papel) Xerife, o documento é autêntico. A pena foi comutada. Não haverá necessidade de derramamento de sangue.

WALTER - Guarde isso para o "Tribune".

PREFEITO - Tire as algemas dos meus amigos.

WALTER - Estou surpreso! Como pôde fazer isso?

Hartwell retira as algemas de Hildy e de Walter.

PREFEITO - Walter, não sabe como me sinto... Pete não tem desculpa.

HARTWELL - Estava cumprindo meu dever.

WALTER - Claro. (A Pettibone) Como é mesmo seu nome?

PETTIBONE - Pettibone. A foto da minha esposa.

Pettibone começa a procurar uma foto da esposa.

PREFEITO - Muito bonita.

PETTIBONE - Ainda não a viu.

PREFEITO - Mas é bonita.

PETTIBONE - É boa para mim, mas se eu contasse...

PREFEITO - Entendo perfeitamente. Sendo prefeito...

WALTER - Só por mais 3 horas.

HILDY - A edição especial pedirá que renuncie.

WALTER - E sua prisão. Vão pegar uns 10 anos cada.

PREFEITO - Não tome decisões precipitadas. Pode acabar sendo processado.

HILDY - Vai se atritar com o governador.

PREFEITO - Ele e eu nos entendemos bem.

HARTWELL - Eu também.

PREFEITO - O que, seu idiota? Sr. Pettibone, venha. Vamos entregar isso ao diretor. Pete!

PETTIBONE - Se eu contar à minha esposa

WALTER - Não será preciso. Espere até eles lerem o "Post" de amanhã.

Pettibone, o Prefeito, Hartwell e o policial saem de cena.
Walter faz uma ligação.

WALTER - (ao telefone) Chame Duffy.

HILDY - Foi a nossa pior encrenca.

WALTER - O que? Chame-o!

HILDY - E quando roubamos o estômago de lady Haggerty do legista?

WALTER - Ele nunca está lá.

HILDY - Provamos que foi envenenada. Tivemos de nos esconder uma semana, lembra? O Hotel Shereland. Foi onde nós...

WALTER - Podíamos ter sido presos. Talvez seja um ramo perigoso. Vai se dar bem. É melhor ir.

HILDY - Para onde?

WALTER - Para Bruce, claro.

HILDY - Sabe que ele foi embora.

WALTER - Ligue. Ele irá esperá-la. Vá andando!

HILDY - O que há com você?

WALTER - (AO TELEFONE) Espere um pouco. (A Hildy) Não entende? Estou tentando fazer algo nobre. Vá antes que eu mude de idéia. É duro o suficiente! Espere. Mande um telegrama. Ele estará esperando.

Walter entrega a bolsa a Hildy.

HILDY - Quem vai escrever a matéria?

WALTER - Eu. Não ficará tão bom...

HILDY - A matéria é minha, eu queria... Finalmente! Já entendi! A mesma encenação. Tentando me mandar embora para eu querer ficar.

WALTER (Ao telefone) - Sim. Sei que mereço isso. (ao telefone) Um momento. (a Hildy) Mas agora está errada. Quando sair, parte de mim irá com você. Mas será tudo novo para você. Debochei de Bruce, Albany, sabe por quê?

HILDY - Porque?

WALTER - Ciúmes! Ele pode te oferecer uma vida que eu não posso. É o que você quer.

HILDY - Posso ficar, redigir a matéria, pegar o trem amanhã...

WALTER - Esqueça. Vamos. Adeus e boa sorte. (Ao telefone) Duffy? Até agora... (outro telefone toca) Um momento. Alô? Quem? Hildy Johnson?

Acaba de sair.

HILDY - Ainda estou aqui. Eu atendo. (pega o fone) Hildy Johnson. 4° distrito? Pode chamá-lo. Achei que estivesse indo para Albany! Por quê? Dinheiro falso! Um momento. Onde o arrumou? Eu dei para você! Vou tentar fazer algo.

Hildy desliga o telefone e começa a chorar.

WALTER - Querida, não chore, por favor. Não queria fazê-la chorar. Você nunca chorou antes.

HILDY - Pensei que fosse me mandar para o Bruce. Não sabia que tinha mandado prendê-lo. Pensei que estivesse sendo sincero. Pensei que fosse me deixar ir embora sem fazer nada.

WALTER - Acha que sou burro?

HILDY - Pensei que não me amasse.

WALTER - O que estava pensando?

HILDY - Não sei.

WALTER - Por que estamos aqui falando? Temos de tirá-lo da prisão. (ao telefone) Mande Louie com dinheiro de verdade para ele ir para Albany. Claro. Diga a Louie para esperar. Estamos indo para o escritório. Não se preocupe, Hildy vai escrever. Ela não vai embora. Vamos nos casar.

HILDY - Podemos ter lua-de-mel?

WALTER - (A Hildy) Claro. (ao telefone) Você será editor-gerente. Só durante a lua-de-mel. Não sei. (a Hildy) Para onde vamos?

HILDY - Niagara Falls.

WALTER - (ao telefone) Niagara Falls.

HILDY - Duas semanas?

WALTER - Claro. Você merece. (ao telefone) O quê? Greve? Que greve? Onde? Albany? Sei que é caminho. Passaremos a lua-de-mel lá. Tudo bem!

(desliga)

HILDY - Que coincidência! Talvez Bruce nos hospede.

WALTER - Não carregue essa mala!

Walter e Hildy saem de cena.

FIM