30.6.09

continuação


INT. NOITE - CANTO DA SALA DO THANE

THANE ESTÁ SENTADO NO ESCURO. A CÂMERA FICA INDO E VOLTANDO.

THANE - O Vietnã. Eu não gosto de falar sobre isso. Foi na província de _____, 24 de dezembro de 1968. Wible vigiava o perímetro externo, Jackson e Pollack estavam comendo as rações e o Taylor estava jogando cartas com o velho Cara de Pau. Um vietcong lançou um morteiro de fora... de fora do acampamento. Nunca explodiu, era falso, mas arrancou a cabeça dele, ficou só o pescoço. Taylor foi o primeiro a achar que havia algo errado. Ele ficava dizendo: "Pega a carta, cara, pega a carta. Se não descartar, tem que pegar uma." Ele olhou para o Cara de Pau e então começou a gritar chamando um médico. Como se isso ajudasse, como se pudesse aplicar um torniquete no pescoço dele. Mas era tarde demais mesmo. Os vietcongs estavam chegando por cima dos arames, milhares deles. Wible acertava todos eles, mas eles continuavam chegando e ninguém sobreviveu. (Breve pausa) Cara, ainda bem que eu estava no ginásio. Não poderia ter enfrentado isso. (levantando-se) Bom, eu acho que vou ver um pouco de televisão. 

THANE LIGA A TV E SENTA-SE NO SOFÁ. FICA ZAPEANDO PELOS CANAIS. 

HOMEM - (SOM TV V.O.) "E LEMBRE-SE, NA FUNERÁRIA CHAY LAY NÓS IMPORTAMOS OS MELHORES..."

THANE - (mudando de canal) Mas eu não.

MULHER - (SOM TV, V.O.) "Eu não consigo mais funcionar, estou cansada."

THANE - Ah, sabe, eu adoro novelas. Eles podem representar pior do que isso? Eu gosto do jeito que eles fazem aquela cara estranha antes do comercial entrar. Sabe, aquela cara estranha? Sabe, alguma coisa vai acontecer com o Mark, e alguém entra pela porta e diz assim: (imitando) "Maaaaarrrk!" Então vem a cara estranha, entra a música e voltam do comercial. Entram pela porta de novo e ele diz: (imitando com timbre normal) "Mark, por onde andou?" O que aconteceu com a cara estranha? Como se nunca tivesse acontecido!

APRESENTADOR - (TV V.O.) Você resolveu todo o quebra-cabeça, agora por dez mil dólares: Que famoso boxeador cunhou a frase "Sou o melhor"?

CONCORRENTE - (TV V.O.) Eu não sou uma grande fã de esportes.

THANE - Não precisa ser uma grande fã de esportes, moça, só tem uma resposta possível!

CONCORRENTE - TV (V.O.) Não é minha especialidade.

THANE - Não precisa ser sua especialidade, só diga o nome do único boxeador que você conhece.

APRESENTADOR - TV (V.O.) Cinco segundos, Veronica.

THANE - Ah, moça, você tem que acertar isso.

CONCORRENTE - (TV V.O.) Ah, eu não sei.

THANE - (enfurecido) AHHHH, EU NÃO ACREDITO! DEZ MIL DÓLARES! COMO É QUE PODE?

CONCORRENTE - (TV V.O.) Me desculpa... O único boxeador que já conheci foi Muhamad Ali.

THANE - (andando em círculos pela casa, com a câmera no encalço) Ah, não! Eu não posso assistir essa porcaria. Como é que pode ser tão burra? É a pessoa mais burra que eu já vi num programa de jogos. A segunda mais burra. Estava na senha. A senha era "exótica", alguma coisa, e o cara da celebridade diz: "bonito e...". E uma mulher realmente disse: "Chonito". Ah, como no sonho mais louco dela! "A senhora é chonito". C-H-O... Ah, e aqueles talkshows de exploração. Bom, eu acho que deveria ter só um deles chamado "Oprah Donald"... "Rusty é uma mulher gorda com cabelo branco e bigode..." Puxa, se está se sentindo mal com você mesmo, ligue num desses shows malucos por pelo menos meia hora. Ah, eu vi uma mulher que uma vez vestiu o filhinho dela feito um porco. É... e no final, o garoto roubou alguma coisa e, então, para puni-lo, ela vestiu ele como um porco e amarrou-o na frente da casa para humilhá-lo. Bom, ela foi presa por violência contra a criança, é claro. Estava certo, porque ninguém nunca deveria fazer isso e, certamente eu nunca concordaria com uma coisa dessas. Mas, tenho que admitir, é uma tática disciplinar muito eficaz, não é? Bom, pelo menos não teria que escutar duas vezes, uma vez que a mãe pegasse a roupa de porco, ahn?! "Billy, esse quarto tá meio bagunçado. Róinc, róinc". Seus irmãos estão parados ali, com a roupa de elefante. "Eu daria ouvidos a ela se fosse você, ela é doida, a casa inteira é um zoológico!" (barulho no apartamento de cima) Mas de agora em diante eu vou passar cada momento acordado completamente e intensamente dedicado a encontrar para esse cara um emprego. (ao teto) Por favor, abaixa essa música. Por favor, abaixa essa música! ABAIXA ESSA MÚSICA! (fecha os olhos e depara-se com a visão da Morte) Eu preciso relaxar... Eu tenho que lembrar de não fechar os olhos. Eu estou ficando louco. Não, isso é só um típico dia normal. É igual a outro: típico e normal. QUER ABAIXAR ESSA PORCARIA DESSA MÚSICA? (começa a bater com a vassoura no teto; música é desligada. Thane agradece, batendo a cada sílaba) Mui-to-a-gra-de-ci-do. Não é uma pena que precise chegar a isso? Tinha uma mente tão aberta quanto a de qualquer outro, mas se preciso viver minha vida com todos se aproveitando, então eu prefiro estar morto. 

A MOSCA REAPARECE, THANE A MATA.
BATIDAS NA PORTA. THANE ABRE E VISUALIZA SEU VIZINHO BARULHENTO COM UM APARELHO DE SOM.

THANE - Ah, deve ser a substância feito um tumor que mora lá em cima, né?

VOL - Olha só, eu não me importo com você socando meu chão, mas será que dá para fazer isso com mais ritmo porque tá perturbando minha cabeça?

THANE - Ah, eu compreendo perfeitamente. Não queremos encher demais este magnífico reservatório de pensamentos.

VOL - (Entrando e olhando em volta) É... Vamos checar o local. Ah, esse cara é capaz, bem capaz. Hmm, organizado. A propósito, meu nome é Vol.

THANE - Vol... é muito apropriado. Escuta, seu sobrenome é Ume?

VOL - Não. Olha só, somos vizinhos, eu não quero brigar com você. Achei que a gente podia, sabe, ficar frio, sacou? Tomar uma cerveja, esquecer tudo isso.

THANE - A única maneira de uma cerveja possivelmente me ajudar é se eu a jogar nos meus ouvidos até estar totalmente morto, porque essa é a única maneira. Viver debaixo de você não poderia ser outra coisa além de uma visão previa assustadoramente precisa dos horrores infinitos do inferno!

VOL - Uau! Alguém dá um valium para esse cara! Olha aí, desculpa se eu toco a minha música um pouco alto demais algumas vezes, tá?

THANE - Algumas vezes? O seu... o seu apartamento, amigo, é uma fonte constante de músicas e efeitos. Parece até que uma companhia de filmagem contratou você para acabar com a minha existência.

VOL - (em tom divertido) Ei, você é legal!

THANE - Ok, vamos resolver isso de uma vez por todas. Se você ganhar, nunca mais vou poder falar da sua música, mas se eu ganhar, você nunca mais vai poder tocar qualquer daquelas agonias melódicas de tons altos de novo.

VOL - O que?

THANE - Sem música, pelo resto da sua vida. Completo e total silêncio.

VOL - E se eu me mudar?

THANE - Bom, eu adoraria poupar os outros do inferno iminente que acompanharia você como vizinho deles, mas eu devo admitir que eu só estou preocupado comigo nesse assunto. (observando a cara de interrogação de Vol, ele explica) Se você se mudar, eu cancelo tudo.

VOL - Feito. Opa, espera. Qual é o jogo?

THANE - Queda de braço.

VOL - É um pouco forte demais.

THANE - Vai amarelar, né? Não, não, não, não. Eu entendo a sua idéia de usar a masculinidade para apoiar um argumento a uma coisa que você... você não pode enfrentar. 


DISSOLUÇÃO - INT. DIA - LOCAL

THANE E VOL ESTÃO SENTADOS, CADA UM DE UM LADO, À MESA, DISPUTANDO. VOL ESTÁ APARENTEMENTE PERDENDO.

THANE - Calma, amigo, calma. Vai ser um pouco mais tranqüilo agora. Eu nem consigo imaginar, sabe? Dias infinitos de paz e tranqüilidade. Eu tenho certeza que vai dar certo para você. Talvez arranje um novo hobby, coleção de selos, talvez. Quem sabe, talvez, um dia você pode até ler um livro. (fingindo que está sendo difícil) Oh, opa, ei, peraí... Oh, oh.. AHHHH!

VOL - A propósito, quando quer começar?

THANE - Ahn??? (agora parou de fingir e.. Vol o derruba) Ah, droga!

VOL - Tá falando de música lixo? É música legal, mas tem que botar alto para escutar com clareza.

THANE - Não!

VOL - Adeusinho!

VOL SAI DE CENA. THANE PERMANECE, SE ROENDO DE RAIVA.

THANE - Eu não acredito nisso, mas que droga! (ouve-se o som de Vol) Isso não vai me irritar, foi uma aposta justa. Acontece que eu perdi. Ele ganhou a aposta e eu... eu vou aceitar.

CORTE / MÚSICA PÁRA. THANE ENTRANDO EM SEU APARTAMENTO PELA JANELA, COM UM ALICATE.

THANE - Ah, qual é? Você teria feito isso também. Eu, eu só quero ficar quieto. Eu só quero paz, um pouco de paz... (fecha os olhos e...) Não feche os olhos, não feche os olhos, não feche os olhos. Ok, então... (telefone toca. Thane atende prontamente) Alô.

AL - (voz assustadora) Se você construir, ele virá.*

THANE - O que?

AL - (rindo) Eu to brincando, é o Al. To indo praí.

THANE - Al, você não devia brincar assim!

AL - Ah, tá ok, senhor nervoso.

THANE - Fala rápido, tá.

AL - Tudo bem, mas relaxa, tá. Já vou.

OUVE-SE A VOZ DA MORTE POUCO DEPOIS DO AL DESLIGAR, DIZENDO: "E EU TAMBÉM."

THANE - (desliga, assustado) Ele tá no telefone, isso é bom. Tá no telefone. Isso tá certo, ótimo, ótimo!

DISSOLVE 


THANE ESTÁ SENTADO NO CHÃO, NUM CANTO ESCURO DA SALA, PERTO DA PLANTA.

THANE - Minha vida poderia ter sido diferente. Eu poderia ter sido um daqueles indivíduos totalmente desinformados, sem mente... um indivíduo contente com uma bela mulher, uma bela casa, um ótimo carro, trabalho perfeito. 

EXT. DIA - JARDIM DE ENTRADA - DEVANEIO DO THANE

THANE SORRINDO.

THANE - Ah, é ótimo estar vivo!

MENININHA SALTITANTE SURGE. E SUA VOZ AGUDÍSSIMA, TAMBÉM.

MENINA (abraçando-o) - Já vou para escola, papai. Eu te amo.

THANE (abraçando-a) - Oh, eu te amo, também. (soltando-a) Agora vai. Não esqueça o seu lanchinho. Ah, e não esqueça de beijar a mamãe. (ela faz isso e sai do quadro) E, não é uma má idéia.

THANE ACHEGA-SE PERTO DE SUA SORRIDENTÍSSIMA ESPOSA E A BEIJA. DETALHE: ELA É A MELANIE!

THANE - Eu te amo, querida!

MELANIE- Eu também te amo, querido. Ah, a vida não é ótima?

THANE - É, querida. Sabe, a vida é ótima. E você sabe o que a torna ótima? Você.

MELANIE- Ah, essa é a coisa mais doce que eu já ouvi. Eu sou a mulher de maior sorte em todo o mundo!

THANE - E eu sou o homem de maior sorte em todo o mundo!

MELANIE- Ah, querido, a propósito...

THANE - Que que é, docinho?

MELANIE- São oito horas.

APARTAMENTO DO THANE/ INTERIOR - NOITE 
THANE ABRE OS OLHOS, ASSUSTADO. BATIDAS ININTERRUPTAS NA PORTA. MÚSICA DE SUSPENSE. THANE APROXIMA-SE, RECEOSO.

THANE - Quem... quem está aí? Al, você está aí?

THANE ABRE A PORTA. MÚSICA PÁRA. VÊ-SE UM HOMEM UNIFORMIZADO, UM MOTORISTA.

THANE - Que que você quer, hein?

MOT.- Eu imagino que deva vir comigo.

THANE - O que?

MOT.- São oito horas.

THANE - (num misto de braveza e ironia) Então é você! Você é o "oito horas"? Uh, mas que medo... Eu tenho uma mensagem para você, amigo: eu não vou a lugar nenhum.

MOT.- São oito horas, senhor. A limusine o espera.

THANE - Limusine?

MOT.- A limusine.

THANE - Que que tá havendo?

MOT.- Eu só dirijo o carro, senhor, terá que vir comigo.

THANE HESITA POR UM INSTANTE.


DISSOLVE - INT. NOITE - DENTRO DA LIMUSINE

THANE ESTÁ ENTRANDO NA LIMUSINE. O MOTORISTA FECHA A PORTA E EM SEGUIDA DÁ A VOLTA E SENTA-SE AO VOLANTE.

THANE - (mais animado) É muito gentil. Ei, eu ganhei alguma coisa, é? (o motorista se vira e transforma-se na Morte) Ele não é real, ele não é real, é só o motorista.

MORTE - Eu sou real. Mais real, impossível. (gargalhando)

THANE - Mas o que é isso, hein? Deixa eu sair daqui! Ahhh. Quem é você?

MORTE - A Morte.

THANE - (com medo) A Morte?? Como... a Morte?

MORTE - Bom, eu diria "em carne e osso", mas não seria 100% preciso.

THANE - Isso é loucura.

A MORTE MATA UMA MOSCA COM UM OLHAR.

MORTE - Viu?

THANE - Era só uma mosca. Só uma mosca.

MORTE - Queria que ela vivesse?

THANE - Não, não pode ser.

MORTE - Você sabe que é real, aceite.

THANE - Isso não é real!

A MORTE FAZ AQUELA CARETA QUE SEMPRE ASSUSTA O THANE.

MORTE - Assustei você?

THANE - É.

MORTE - Pois eu sou a Morte, assusto quando faço uma coisa assim.

THANE - Você é esquisito.

MORTE - Eu sou a Morte.

THANE - Mas eu não estou morto.

MORTE - Está morto!

THANE - Mas eu não estou morto.

MORTE - Está morto!

THANE - Mas eu não estou morto. (A Morte faz uma cara feia. Assustado, admite) Ok, ok, estou morto, morto!

MORTE - Eu tenho que te mostrar, todos querem ver. Fecha os olhos. Fecha!

THANE FECHA OS OLHOS. 


DISSOLUÇÃO - INT. NOITE - APARTAMENTO DO THANE

TELA DE CANTOS BRANCOS, COMO NUM SONHO. AL ENTRANDO NA SALA DE THANE E OBSERVANDO-O SEM VIDA. ELE SE ASSUSTA. THANE VAI NARRANDO O QUE VÊ.

THANE - É o Al. é o meu apartamento.

AL - Thane, Thane, Thane! Ei, Thane!


INT. NOITE - DENTRO DA LIMUSINE

A MORTE RINDO. THANE EMBURRADO.

MORTE - Foi super-radical, né?

THANE - (desacreditando) Eu sou jovem demais pra morrer.

MORTE - Clichê. Na verdade, foi um pouco antes da sua hora marcada, mas você ficou dizendo que queria estar morto.

THANE - Isso é uma figura de linguagem!

MORTE - Talvez sim, mas só tem permissão para dizer 18000 vezes, depois me chamaram.

THANE - Dezoito mil vezes? Mas... mas isso é burrice!

MORTE - Você nunca foi útil.

THANE - O que?

MORTE - Nunca foi útil para ninguém. Só ficava reclamando, você nunca ajudou ninguém. 

THANE - E se tivesse?

MORTE - É tarde demais, amiguinho, é tarde demais.

THANE - Você adora isso, não é?

MORTE - Eu adoro as pessoas.

THANE - Você faz uma Morte péssima. Não deveria estar usando um capuz?

MORTE - Eu era depressivo, mas olha só.

A MORTE TIRA UMA ORELHA E A COLA NA TESTA. THANE SE ASSUSTA.

THANE - Mas o que que é isso?

MORTE - A Morte é ótima! Vá em frente, tente!

THANE - Não!

MORTE - (fingindo que não ouviu, afinal, a orelha está na...) Hein? (rindo)

THANE - Eu odeio estar morto, é uma droga! Eu odeio mais do que a vida. Odeio o jeito que você é, eu odeio você. É estupidez estarmos nesta limusine, é a coisa mais estúpida que está fazendo com a sua orelha. Essa regra de dezoito mil vezes é furada. Eu, eu, eu não gosto nada daqui, aqui não tem túnel! O mínimo que podia fazer era me dar algum tipo de túnel e uma luz brilhante. Ninguém nunca voltou e disse: "Oh, era tão pacífico! Eu vi uma enorme limusine, mas..." Isso... isso é demais! Eu... eu não estou nem flutuando. Sabe? Podiam pelo menos pensar que eu ia estar flutuando ou sei lá, mas não, não, não, só estou no banco de trás com um cara... com um cara que pode recolocar a orelha. "Ah, isso deve ser o paraíso! Alguém me belisca!" (Thane está deixando a Morte deprimida) Olha só, é você! É... você e sua cara aparecendo em todas as partes. É... talvez tudo o que fiz foi reclamar, talvez... talvez eu não tenha ajudado ninguém, pelo menos eu não estava querendo me mostrar e assustar pessoas 24 horas por dia. Tem muitas coisas que deviam ser mudadas por aqui, e assim que eu observar mais coisas, eu vou te dar um relatório completo, detalhado, de como as coisas deveriam ser e ver se você vai escutar tudo, você vai ter que escutar tudo. (A Morte tenta fazer a careta habitual, mas dessa vez, Thane não se assusta) Não, não. Não dessa vez, cara. Primeiro você tem que entender: as pessoas que pensam na morte, pensam em morrer, elas estão criando expectativas, é sua responsabilidade assegurar que não serão decepcionadas. Agora, agora você tem que acreditar em mim, esse é um enorme desapontamento, é uma grande decepção. Agora, sabe, por exemplo, quando você morre, nunca pensou que pode querer ver alguém que você conhece, sabe? Como um parente, um cara... um cara que você conheça, não um cara de borracha dentro de uma limusine! (enquanto isso, a Morte começa a mexer freneticamente num de seus aparelhinhos, amedrontado) "Ah, é, eu estou morto agora. Por favor, traga o senhor Cara-de-Borracha. Isso seria legal, eu gostaria de ficar irritado pela eternidade. Traga o perdedor! É, eu adoro ficar perto dele, ele é demais!"


INTERIOR - NOITE - APARTAMENTO THANE

AL ESTÁ PREOCUPADO, POIS THANE NÃO ACORDA.

AL - Thane, Thane, Thane! Thane, Thane! Eu não acredito, eu tenho que chamar a polícia.

DE REPENTE, THANE SE LEVANTA E SURPREENDE AL.

AL - (assustado) AHHHH! Ué, você tá vivo?!

THANE - É.

AL - Tava morto!

THANE - Estava?

AL - Tava deitado aí, sem pulso.

THANE - É sério?

AL - Mas, o que houve? Lembra de alguma coisa?

THANE - (levantando-se) Ah, a limusine. Tinha um cara que arrancou a orelha dele. Eu, eu... eu to com fome. Vamos comer alguma coisa.

AL - Peraí... Você tá a fim disso? Você tá legal?

THANE - (dirigindo-se à saída) É... Eu me sinto ótimo. Anda, anda, vamos.

AL - Quer dizer sair e comer fora, ir a um restaurante?

THANE - É. Qual é o problema?

AL - Peraí, peraí, Thane. Deixa eu ver se entendi direito: você quer ir a um restaurante?

THANE - É, mas é melhor terem cereal, e não aquela conversa de "Só servimos de manhã."

AMBOS SAEM DE CENA.

FADE OUT


FADE IN

INT. NOITE - LIMUSINE

A MORTE ESTÁ NA LIMUSINE, AINDA AMEDRONTADO.

MORTE - Eu não aguento mais ficar perto desse cara. Ah, qual é? Não vou voltar para me pegar mesmo.

A MORTE ACELERA. CARRO SAI DO QUADRO.

FADE OUT

FIM

* Frase relativa ao filme "O Campo dos Sonhos", de Phil Alden Robinson.